Marcada por um discurso eleitoral tido como "aberrante", a campanha presidencial dos Estados Unidos já está a refletir-se na saúde dos norte-americanos.
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A poucos dias da eleição do sucessor de Barack Obama na Casa Branca, os candidatos jogam as últimas cartas. Os ataques entre Hillary Clinton e Donald Trump começaram nas primárias, em fevereiro, e deverão ser uma constante até à ida às urnas da próxima terça-feira.
Nos debates e discursos, as acusações mútuas sobrepuseram-se à comunicação das políticas. Acusações de assédio sexual, adultério, corrupção, tráfico de influências, ameaças de prisão, xenofobia e reptos para a realização de testes de despistagem de drogas caracterizaram a campanha, que atingiu níveis de discurso nunca antes vistos.
Se Trump usa os adjetivos "mentirosa" e "vigarista" para fazer o retrato de Hillary, a democrata chama "racista" ao adversário e "bando deplorável" aos seus seguidores.
De acordo com um estudo que a Associação Americana de Psicólogos (APA) publicou em outubro, 52% dos adultos americanos admitiram ficar stressados com a eleição presidencial. Em setembro, a APA deu conta de que um em cada quatro trabalhadores viu a sua produtividade diminuída no emprego por causa das polémicas presidenciais.
A disputa pela Casa Branca está a fazer tão mal à saúde dos norte-americanos, que levou a maior organização de psicólogos do país a lançar uma lista com sugestões para combater o "stress eleitoral". Entre elas, estão a diminuição do consumo de notícias e a procura mais equilibrada de informação. Saber menos, mas melhor, para não perder a paz de espírito até dia 8 de novembro.
Em meados de outubro, durante um debate sobre as eleições de novembro, o embaixador dos Estados Unidos da América em Lisboa, Robert Sherman, teceu duras críticas ao tom da campanha presidencial", disse então.
Considero que a troca de insultos e a ênfase em indiscrições sexuais de ambos os lados estão abaixo da dignidade do cargo de Presidente dos EUA e, por isso, penso que esta é uma campanha aberrante, no que diz respeito ao nível do discurso a que temos assistido
A poucas semanas das eleições, Trump recuperou as acusações de fraude eleitoral e falou sobre os receios de uma possível manipulação da votação de novembro. Sempre que houve hipótese, trouxe para cima da mesa o caso dos e-mails de Hillary Clinton, que, enquanto secretária de Estado (2009-2013), terá utilizado um correio eletrónico pessoal para assuntos de natureza confidencial.
Outro potencial escândalo no seio do partido Democrata prendeu-se com a divulgação de 20 mil correios eletrónicos pela plataforma WikiLeaks, que tornou públicas as estratégias para debilitar o senador Bernie Sanders, candidato às primárias.
Ainda que tudo isto tenha servido para Donald Trump comparar a adversária ao "diabo", foi a figura do magnata que ficou diabolizada quando um vídeo gravado em 2005 tornou viral os termos com que o magnata se dirigia ao sexo feminino.
As repercussões foram imediatas, quer nas sondagens quer junto dos republicanos. Várias figuras retiraram o seu apoio a Trump e outras pediram a desistência da corrida presidencial. A sua esposa, Melania, desvalorizou os acontecimentos e acusou os média de parcialidade.
Trump tentou passar a batata quente ao ex-presidente Bill Clinton, quando apareceu publicamente com um grupo de mulheres que o acusou de assédio sexual.
Os elogios que o rival republicano tem feito frequentemente ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, fizeram Clinton ganhar pontos no último confronto em Las Vegas, onde acusou Trump de ser "uma marioneta" do governante russo.
Numa sondagem divulgada esta terça-feira pelo jornal "The Washington Post" e pela estação televisiva ABC, o candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, surge com uma vantagem de um ponto percentual sobre a candidata democrata, Hillary Clinton.