A misteriosa Síndrome de Havana, sentida por vários diplomatas norte-americanos nos últimos anos, foi associada a uma unidade de informações russa, de acordo com uma investigação conjunta do "The Insider", "Der Spiegel" e "60 Minutes" da "CBS News"
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A Síndrome de Havana foi relatada pela primeira vez em 2016, quando diplomatas dos EUA na capital de Cuba disseram ter adoecido e ouvido sons penetrantes à noite, gerando especulações de um ataque por uma entidade estrangeira com uma arma sonar não especificada. Posteriormente, foram relatados por funcionários de embaixadas na capital norte-americana Washington, na China e na Europa outros sintomas como sangue no nariz, dores de cabeça e problemas de visão.
Uma investigação publicada em 2023 concluiu que era "muito improvável" que os casos fossem obra de um Estado estrangeiro, embora nenhuma teoria alternativa tenha sido apresentada e esta onda de "incidentes médicos anómalos". No entanto, de acordo com uma nova investigação divulgada esta segunda-feira, os diplomatas podem ter sido alvo de armamento sónico russo. A investigação, que durou um ano, “descobriu provas que sugerem que incidentes de saúde anómalos inexplicáveis, também conhecidos como Síndrome de Havana, podem ter a sua origem no uso de armas de energia dirigida empunhadas por membros da Unidade 29155 (do GRU russo)”, lê-se no relatório.
Um dos autores da análise, Greg Edgreen, refere que o "nexo russo" é o denominador comum em todos os casos, sendo que as autoridades russas teriam mesmo recompensado a unidade 29155 pelo seu bom trabalho nesta questão. Membros deste grupo terão estado em todos os locais onde foram relatados ataques, coincidindo também com estes incidentes.
A unidade 29155 da Rússia é responsável pelas operações estrangeiras e foi responsabilizada por vários incidentes internacionais, incluindo a tentativa de envenenamento do desertor Sergei Skripal na Grã-Bretanha em 2018.
De acordo com Edgreen, os próprios investigadores norte-americanos estabeleceram um padrão demasiado exigente para poder lançar uma acusação formal contra Moscovo porque, entre outras razões, isso implicaria enfrentar algumas "verdades inconvenientes", como a de que os EUA teriam falhado na proteção do seu pessoal.
A ligação já foi rejeitada por Moscovo, que considerou as acusações "infundadas". "Este assunto já é falado na imprensa há muitos anos. E desde o início, na maioria das vezes, está ligado ao lado russo. Porém, nunca ninguém publicou qualquer prova convincente, por isso tudo isto nada mais é do que uma acusação infundada", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, em conferência de imprensa.
"Não há limites sobre o que Moscovo fará"
O Congresso norte-americano aprovou medidas de apoio às vítimas. Uma delas, identificada como Carrie, contou à "CBS News" como vivenciou o alegado ataque que inicialmente lhe causou desmaios e, depois, problemas de memória e concentração. Esta agente do FBI explica que estava na sua casa, no estado norte-americano da Florida, quando, de repente, sentiu um som alto no ouvido direito e, ao mesmo tempo, a bateria do seu telemóvel começou a inchar, a ponto de partir a caixa do aparelho.
Outro incidente aconteceu em 2023, na Lituânia, durante a cimeira dos líderes da NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Segundo fontes consultadas pelos meios de comunicação que participaram na investigação, um alto funcionário do Departamento de Defesa dos EUA foi atacado.
"Isto mostra que não há limites sobre o que Moscovo fará ou atacará e que, se não o confrontarmos, o problema irá piorar", alertou Edgreen.
Primeiros casos terão acontecido na Alemanha
A investigação conjunta sugere ainda que os primeiros casos da Síndrome de Havana podem ter ocorrido na Alemanha dois anos antes dos casos relatados em Havana.
“Provavelmente houve ataques dois anos antes em Frankfurt, na Alemanha, quando um funcionário do governo dos EUA no consulado local sofreu de algo semelhante a um forte feixe de energia”, lê-se no relatório.
Em julho de 2021, o jornal "The New Yorker" adiantou que cerca de duas dúzias de oficiais de informações, diplomatas e outros funcionários do governo dos EUA na Áustria relataram sintomas semelhantes à Síndrome de Havana desde que o presidente Joe Biden assumiu o cargo em janeiro do mesmo ano.
EUA já reabriu gabinete de imigração em Havana
Em 2018, Washington fechou o seu escritório de imigração em Havana em 2018 no âmbito de uma mudança política dos EUA em relação a Cuba e também em resposta aos receios da altura de que a Síndrome de Havana "fosse resultado de um microondas ou outro ataque eletrónico".
Cinco anos depois, em agosto de 2023, os EUA reabriram o gabinete de imigração na capital de Cuba.