Casas, pontes e até estradas irão ser construídas com os resíduos deixados pela lava do vulcão Cumbre Vieja. Um mês depois do fim da erupção, há uma luz ao fundo do túnel.
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Depois da tempestade, vem a bonança, diz o ditado popular, e a máxima pode ser aplicada ao cenário que se vive em La Palma, nas Canárias. A mais longa erupção vulcânica registada na ilha deixou vários moradores sem casa e inundou a região de cinzas. Agora, os trabalhos de limpeza decorrem com condicionantes, porém os resíduos deixados podem contribuir para o conceito de economia circular.
Desde que o vulcão cessou atividade, no dia de Natal, centenas de operacionais lutam para abrir caminho nas estradas que continuam cortadas pela acumulação de cinzas. "Às vezes é preciso viajar durante duas horas para se conseguir chegar a zonas separadas por poucos quilómetros", refere ao JN Javier Javera, engenheiro do departamento de obras públicas das Canárias.
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Um dos grandes dilemas consistia em saber o que fazer às cinzas que estão a ser retiradas. O engenheiro e a equipa que o acompanha sugeriram uma alternativa que pode revolucionar a construção civil na região. "Pretendemos valorizar os resíduos gerando novos produtos. Assim tratamos as cinzas como um elemento que pode ser transformado", explica.
Javier Javera acrescenta que a equipa está a desenvolver uma linha de pesquisa que pretende estudar as propriedades das cinzas "para melhorar a resistência e durabilidade dos produtos feitos com cimento", de modo a "ajudar a reduzir a quantidade de água necessária na transformação do material". Além das cinzas poderem passar a ser parte integrante de edifícios e pontes, o especialista espanhol chama a atenção para o papel que poderão ter na construção de estradas, referindo a possibilidade de as utilizar "na produção de misturas betuminosas para a execução de pavimentos rodoviários".
Manutenção de praias
Em erupção durante 85 dias, o vulcão levantou muitas preocupações, mas desde que deu tréguas, a prioridade tem sido tirar partido dos estragos. O desejo parece ser concretizável, não só na área da construção, como também na ambiental. Além de estar a ser feita uma utilização sustentável na agricultura, Javera dá conta de que um novo projeto pretende "analisar a utilização de cinzas na areia para regeneração as praias".
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Ainda assim, o processo de transformação pode ser lento, até porque os trabalhos de recolhimento das cinzas estão a decorrer com restrições. "Há pessoas que têm as casas cercadas por lava" refere Rubén Fernandez, diretor técnico do Plano de Emergência Vulcânica das Ilhas Canárias (Pevolca). Ao JN, o responsável diz que se vive um ambiente de esperança, mas recorda que ainda há moradores que não podem regressar às residências. "A concentração de dióxido de carbono é muito alta em algumas das zonas, tornando o ar incompatível com a vida", lamenta.
Rúben Fernandez revela que há habitantes que estão numa situação dramática por terem ficado com as casas destruídas, estando agora a ser acompanhados por um programa regional. Seja por culpa das cinzas ou da poluição, o responsável prevê que os tempos serão de incerteza e que a finalização dos trabalhos "tanto pode demorar um mês como um ano".
Ilha aumentou
Segundo dados divulgados no fim de novembro, a erupção fez com que a ilha espanhola aumentasse 43 hectares.
Perigos iminentes
Um mês depois da erupção ter cessado, a temperatura e o risco de desabamento ainda são perigos a ter conta.
Desalojados
As autoridades estimam que mais de mil pessoas continuem impedidas de regressar a casa.
Número
2651 habitações foram destruídas pela lava. A lava engoliu ou destruiu perto de 2700 casas, que agora deverão ser reconstruídas com a ajuda de um programa especial regional.