O corte de gás, as ameaças com respostas "relâmpago" à Europa e a esperança de Guterres
António Guterres chegou esta quarta-feira a Kiev e mostrou-se relativamente otimista quanto à criação de um corredor humanitário para retirar civis da martirizada Mariupol, que apontou para sexta-feira, mas sem garantias. Do lado russo, há retaliações com corte de gás à Europa e ameaças de resposta impiedosa perante interferências na Ucrânia. Eis os pontos-chave deste 63.º dia de guerra.
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- Vladimir Putin alertou que qualquer país que tente interferir na Ucrânia receberá uma resposta "rápida como um relâmpago" de Moscovo. Falando em São Petersburgo, o presidente russo disse que as tropas russas usarão, se necessário, "todos recursos" ao seu dispor, incluindo "aqueles das quais ninguém se pode gabar". Leia aqui
- A empresa estatal russa de gás Gazprom suspendeu o fornecimento à Polónia e à Bulgária depois de estes dois países se recusarem a fazer pagamentos em rublos. Os dois países confirmaram a suspensão, mas descansaram as populações, garantindo ter alternativas que lhes permitirão continuar a fornecer gás aos consumidores apesar do corte. A Rússia alertou que outros países da UE poderão também ser visados se se recusarem a pagar o gás em rublos. O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, considerou que a decisão constitui mais uma "medida unilateral agressiva" da Rússia e prometeu solidariedade entre os 27.
- António Guterres atirou para sexta-feira a esperada retirada de civis da martirizada Mariupol, mas não dá garantias. A partir de Kiev, onde na quinta-feira se encontrará com Zelensky, disse que há "disponibilidade" para estabelecer corredores humanitários mas manifestou "humildade" quanto ao seu papel junto de Putin. Há disponibilidade, em geral, para se discutir corredores", acrescentou o líder da ONU, lembrando que a operação de evacuação da cidade portuária "é particularmente delicada", uma vez que as pessoas estão "dentro de uma fortaleza subterrânea, em condições verdadeiramente dramáticas". Guterres disse ter a "humildade" de entender que pode dar o seu contributo na resolução do conflito, mas que não é preponderante: "Sei que não consigo convencer totalmente Putin". Leia aqui
- A Comissão Europeia propôs suspender, durante um ano, os direitos de importação sobre todos os produtos ucranianos para ajudar a economia do país durante a guerra. O presidente da Ucrânia, que conversou com a presidente da Comissão sobre mais apoios ao país, agradeceu a proposta, que tem de ser aprovada pelo Parlamento Europeu, e disse que Ursula von der Leyen abriu a porta a um sexto pacote de sanções contra a Rússia, que "deve incluir o embargo de petróleo".
- Um comandante ucraniano na cidade sitiada de Mariupol disse que há mais de 600 civis e combatentes feridos retidos na siderúrgica Azovstal. De acordo com Serhiy Volyna, chefe da 36.ª Brigada de Fuzileiros Navais, centenas de civis, incluindo crianças, estão a viver no local em condições insalubres e sem comida e água.
- As forças russas bombardearam hoje um hospital na cidade de Sievierodonetsk, em Lugansk, leste da Ucrânia, disse o governador regional, Serhiy Gaidai. O hospital era um dos dois únicos ainda em operação na região separatista. Uma mulher morreu.
‼️Russian occupiers have shelled a hospital in #Sievierodonetsk, #Luhansk region. One woman died.
- U24 (@u24_news) April 27, 2022
"The Russians knew the hospital was full of patients, but this did not stop them," wrote Serhiy Gaidai, Head of the regional military administration. pic.twitter.com/YmgCDJJ7oU
- O Ministério do Interior da região separatista da Transnístria, na Moldávia, alegou, em comunicado, que a área perto de Kolbasna, onde existe um dos maiores depósitos de munições da Europa, foi atacada pelas forças ucranianas.
- O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia anunciou sanções a 287 membros da Câmara dos Comuns da Grã-Bretanha, acusando-os de "incitar a histeria russofóbica". Boris Johnson reagiu dizendo que os políticos que foram atingidos pelas sanções devem considerá-las "uma distinção de honra".
- Em Portugal, a ministra do Trabalho anunciou que já foram celebrados contratos de trabalho com 1400 refugiados ucranianos fugidos da guerra, havendo cerca de 29 mil ofertas de trabalho disponíveis. Leia aqui
Balanço
- Refugiados: mais de 5,3 milhões de ucranianos fugiram do país desde a invasão da Rússia, a 24 de fevereiro, segundo dados divulgados esta quarta-feira pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) que prevê que o número aumente para 8,3 milhões até ao final do ano. Cerca de 90% dos que fugiram são mulheres e crianças, já que as autoridades ucranianas não permitem a saída de homens em idade militar.
- Mortos e feridos: Pelo menos 2787 civis morreram e 3152 ficaram feridos na guerra da Ucrânia, confirmou esta quarta-feira a ONU, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores. Das vítimas mortais confirmadas pelo Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), 202 são crianças. E há também 302 crianças entre os feridos, de acordo com as estatísticas diariamente atualizadas.