O susto de um grupo de portugueses na Turquia: "Apesar de tudo, tivemos muita sorte"
Seis alunos e duas professoras da Póvoa de Varzim foram apanhados no meio da tragédia humanitária na Turquia.
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Sara saiu a correr, abraçou os pais e chorou de alegria. Chegou assustada, depois de dois dias sem trocar de roupa e sem uma refeição. João viu um prédio de 17 andares ruir como um castelo de cartas. Nos últimos dias, partilharam o hotel com centenas de desalojados, que perderam casa, família e amigos e, apesar do susto, sabem que, dada a dimensão da tragédia, tiveram "muita sorte". Os seis alunos e duas professoras da Escola Secundária Rocha Peixoto, na Póvoa de Varzim, chegaram esta quarta-feira de Adana, na Turquia.
"Foram dias muito assustadores. Estou há dois dias com a mesma roupa, sem tomar banho e a comer sopa com sabor a rojões e um pão", conta Sara Ribeiro, de 17 anos, aluna do 11.º de Receção Hoteleira. Está "feliz" pelo regresso.
Os seis alunos e duas professoras estavam na Turquia ao abrigo do programa Erasmus +. Tinham chegado a Adana na madrugada de domingo, 24 horas depois, o violento terramoto sacudiu o Sul da Turquia e o Norte da Síria. O grupo acordou sobressaltado.
"Começamos a olhar à volta, era o armário e a secretária a abanar e aí tivemos a certeza do que era. Calçamos umas sapatilhas, vestimos o kispo por cima do pijama e saímos para a rua", conta João Santos. Eram 4:17. Estiveram duas horas, na rua, à espera.
Ainda a refazerem-se do susto, na manhã seguinte, novo abalo. "Ouvimos umas senhoras a gritar e, no final de uma rua perpendicular ao hotel, um edifício de 17 andares tinha colapsado, ali a 100 metros. Apesar de tudo, tivemos muita sorte", continua a contar João.
Pais aflitos
Do lado de cá, os pais de Sara sofriam. Sandra e Pedro Ribeiro souberam pela Sara. Depois, vieram as imagens "aterradoras", o número de mortos a crescer a cada minuto. Ficaram assustados. Sara ia ligando quando conseguia, a escola ia informando, a professora ajudando a calar a aflição, mas "o que a gente queria era que ela chegasse", diz Pedro Ribeiro.
Ainda no aeroporto, o pai de João, Pedro Santos, dá um abraço sentido à professora Clementina Ferreira: "Foi uma mini-expressão do agradecimento" à "pedra basilar" que, nos últimos dias, "tudo fez para acalmar o grupo e evitar o pânico", explica, grato. Como pai, "o sentimento de impotência, foi o mais complicado".
"A minha preocupação foi fazer com que os alunos não ficassem assustados e garantir que ninguém saía para que não pudessem ver o que estava a acontecer", explica Clementina.
O motivo da viagem acabou por cumprir, o regresso foi "complicado", com horas e horas de autocarro e aeroportos cheios, mas o grupo está grato por estar em casa são e salvo.