Diretor-geral de Comunicação do Parlamento sublinha a importância fulcral das eleições, porque o projeto europeu não é um dado adquirido. Crises deram maior visibilidade ao trabalho desenvolvido pelas instituições europeias.
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A vida de Jaume Duch Guillot nunca será calma, mas por estes dias está mais agitada do que o habitual. Com a votação já realizada em países como a Irlanda e os Países Baixos, o diretor-geral de Comunicação e Porta-voz do Parlamento Europeu (PE) desdobra-se em entrevistas e contactos com a imprensa, sem nunca perder um certo discreto sorriso e a compostura, enquanto está também na organização da noite eleitoral em Bruxelas. Entre as preocupações do momento, estão os últimos retoques na complexa organização da noite eleitoral no hemiciclo e fazer com que os europeus saiam de casa para votar.
Os resultados vindos dos Países Baixos, com possível aumento de quatro pontos percentuais no número de votantes, são um sinal de esperança para o responsável espanhol, que há muito dirige os destinos da comunicação do PE. E é para esta consciencialização da população para a importância do voto que o Parlamento Europeu tem trabalhado nos últimos anos. A campanha destas eleições ficou marcada por um vídeo que se tornou viral por apostar num tom emocional.
“A União Europeia e o Parlamento alcançaram muito mais visibilidade do que há cinco anos. Diria que também mais credibilidade. Por causa do Brexit, por causa da pandemia, por causa da guerra na Ucrânia” explica ao JN, num gabinete do 7.º andar do edifício Martens, no complexo parlamentar na capital belga. E este aumento de visibilidade permite ter alguma esperança na diminuição da abstenção, até em países como Portugal, onde as europeias são tradicionalmente pouco concorridas.
Não tem objetivos definidos, até porque nunca os definiria sobre temas que não controla, mas Duch acredita num aumento da votação. “Oitenta por cento dos cidadãos dizem que, devido à situação no mundo, estas eleições europeias são mais importantes do que nunca. Se associarem este facto à vontade de votar, então, sim, penso que nestas eleições voltaremos a assistir a um aumento da participação”.
“A mensagem da geração mais velha a passar a tocha, a passar a mensagem, a passar a responsabilidade sobre a democracia e sobre a proteção da democracia aos mais jovens foi bem recebida por eles. Penso que significa que, sim, fomos bons a identificar de alguma forma o estado de espírito das pessoas antes das eleições europeias”, explica.
Para quem ainda não decidiu se vai votar, Jaume Duch lembra que “o que temos agora não existia antes” e talvez “não exista mais daqui a alguns anos”, colocando a pressão nos cidadãos com esta dramatização do discurso. “A União Europeia está cá. A União Europeia está a funcionar bem. A União Europeia está a ajudar-nos a fazer face a crises por vezes muito difíceis. Mas se quisermos manter esta União Europeia a trabalhar e a funcionar nos próximos anos, também temos de tratar disso”.
Mais de mil jornalistas em Bruxelas
Uma das responsabilidades do porta-voz do PE é a noite eleitoral de hoje, com mais de mil jornalistas ansiosos por saber como será a nova configuração do único órgão eleito por sufrágio direto da União. O hemiciclo, habitualmente ocupado pelos deputados, será preenchido por profissionais de comunicação social.
“É o único sítio na Europa onde os meios de comunicação social podem ter uma ideia dos resultados europeus. Mais ninguém na União Europeia, nem as outras instituições, nem os governos nacionais, tem as competências, a metodologia e a informação necessárias para as transmitir aos jornalistas”, explica ao JN, para justificar a megaoperação preparada para a noite eleitoral, onde estarão presentes os candidatos principais a liderar a Comissão Europeia e os líderes das famílias políticas europeias.
Uma das preocupações é mesmo não infringir as leis eleitorais nacionais, e não serão divulgadas contagens oficiais antes das 22 horas, porque, em Itália, vota-se até tarde e vai ser necessário esperar.