Face à promessa ocidental de apreensão de bens, milionários russos estão a ancorar os seus iates nas águas "seguras" das Maldivas, país que não tem acordo de extradição com os EUA e a UE.
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Com os oligarcas russos na mira das sanções lançadas pelo Ocidente, na sequência da invasão liderada por Vladimir Putin à Ucrânia, muitos destes multimilionários estão a desviar os seus extravagantes iates para águas seguras.
Os EUA e os parceiros europeus anunciaram a formação de uma aliança transatlântica destinada a "caçar" e congelar os ativos dos cidadãos sancionados dentro das suas fronteiras. Uma ameaça que foi levada bem a sério. A movimentação destas embarcações começou no passado fim de semana, mas intensificou-se nas últimas horas, sobretudo devido às promessas americanas de apreensão de bens ligados à "cleptocracia" do Kremlin.
A solução encontrada por pelo menos cinco oligarcas russos foi ancorar os iates nas Maldivas, já que o país não tem acordo de extradição com os EUA ou a União Europeia. Este é, aliás, um dos destinos de eleição, há já vários anos, dos homens de confiança de Putin.
Um dos milionários que optou por esta solução foi Oleg Deripaska, fundador da gigante do alumínio Rusal, sancionada pelos EUA em 2018. Segundo avança a AFP, o seu iate "Clio", registado nas Ilhas Caimão, chegou à capital Malé na passada segunda-feira. Lá já estava ancorado, desde 28 de fevereiro, o "Titan", iate do magnata russo Alexander Abramov, cofundador da produtora de aço Evraz.
O Governo das Maldivas não comentou a chegada das embarcações aos seus portos, mas uma fonte oficial confirmou que o arquipélago, no Oceano Índico, se transformou num destino de férias de eleição para russos e ucranianos, já que foi um dos primeiros países a reabrir as fronteiras aos turistas durante a pandemia. Reconhece, por isso, que a invasão russa da Ucrânia vai ter enormes efeitos no turismo da região: só em janeiro, quase 21 mil russos visitaram as Maldivas.
Apreensões na Alemanha e em França
Numa corrida contra o tempo, há quem não tenha conseguido arranjar soluções. O bilionário russo Alisher Usmanov foi sancionado pela União Europeia e, dois dias depois, o seu iate "Dilbar", avaliado em 537 milhões de euros, foi apreendido pelas autoridades num estaleiro naval de Hamburgo. A embarcação, ancorada naquela cidade portuária do norte da Alemanha desde outubro, estava a ser alvo de uma requalificação.
Usmanov comprou o iate em 2016 ao estaleiro alemão Lürssen, que o construiu ao longo de 52 meses. Com 15.917 toneladas, é o maior iate a motor do mundo em tonelagem bruta, sendo normalmente tripulado por 96 pessoas. Além da maior piscina alguma vez instalada numa embarcação do género, conta com dois heliportos, sauna, salão de beleza, ginásio e interiores luxuosos, com mais de mil almofadas.
O "Dilbar" integra uma fortuna que abrange participações na gigante de minério de ferro e aço Metalloinvest e na tecnológica chinesa Xiaomi, bem como participações menores em telecomunicações e media.
O Governo francês anunciou também ter apreendido, esta quinta-feira, o "Amore Vero", grande iate de uma empresa ligada ao oligarca russo Igor Sechin, presidente do grupo petroleiro Rosneft e um dos homens do grupo mais restrito de Putin. Realizada por agentes alfandegários, a apreensão decorreu num estaleiro no porto francês La Ciotat, após uma revista de várias horas.
O convés principal da embarcação - com 86 metros de comprimento - pode ser transformado em heliporto.