Onda de calor da América do Norte teria sido impossível sem as alterações climáticas
A onda de calor que atingiu os Estados Unidos da América e o Canadá e que provocou a morte a centenas de pessoas, no final de junho, teria sido "virtualmente impossível" sem as alterações climáticas, concluiu um estudo.
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Segundo um estudo da World Weather Attribution (WWA), as alterações climáticas tornaram a onda de calor que atingiu a região da América do Norte 150 vezes mais provável de acontecer.
O estudo revela ainda que o aumento descomunal das temperaturas na região foi um acontecimento de um em mil anos, alertando que se as atuais emissões de gases de efeito de estufa continuarem, este tipo de temperaturas pode tornar-se cada vez mais comum.
"Concluímos que este acontecimento seria 150 vezes mais raro, no passado, pois seria um clima sem alterações climáticas provocadas pelo Homem, onde o clima seria 1,2° C mais frio do que é agora e a onda de calor também seria 2° C mais fria", referiu o autor principal do estudo, Sjoukje Philip, do Instituto Real de Meteorologia da Holanda.
Uma outra autora do estudo, Friederike Otto, da Universidade de Oxford, do Reino Unido, acrescentou que sem os gases de efeito de estufa adicionais na atmosfera, a onda de calor registada nos Estados Unidos da América e no Canadá "simplesmente não ocorreria", ou se existisse a probabilidade do acontecimento ocorrer seria "uma em um milhão de vezes, o que é o equivalente estatístico de nunca".
De acordo com o estudo, se as temperaturas do mundo aumentarem 2° C, o que pode acontecer em cerca de 20 anos, as ondas de calor verificadas na América do Norte podem acontecer com mais frequência, aproximadamente uma em cada cinco ou dez anos até 2040, devido ao aquecimento global que está a aumentar as temperaturas mais rapidamente do que os estudos preveem.
A onda de calor que atingiu algumas regiões dos Estados Unidos da América e o Canadá bateu recordes de temperaturas, nomeadamente no Canadá que atingiu 49,6° C a 29 de junho, algo que não se verificava desde 1937, quando o país registou 45° C.
Também foram registadas centenas de mortes em ambos os países, os hospitais assinalaram um aumento no número de visitas aos serviços de urgência e dezenas de incêndios florestais e inundações foram detetados no oeste do Canadá.
"As pessoas precisam de perceber que as ondas de calor são assassinas e são de longe o evento extremo mais mortal", referiu a investigadora Friederike Otto, acrescentando que "as ondas de calor estão a mudar muito mais e mais rapidamente do que todos os outros eventos extremos e a preparação para o calor e a prevenção da morte durante as ondas de calor precisam de ser uma prioridade para todas as autoridades municipais".
Os investigadores apontaram ainda duas justificações para esta onda de calor. A primeira hipótese revela que vários fatores produziram um acontecimento muito raro que foi agravado pelas alterações climáticas. A segunda hipótese está relacionado com o facto de as alterações climáticas terem alterado as condições atmosféricas para que esta onda de calor fosse agora mais comum do que o anteriormente conhecido.
O estudo da World Weather Attribution (WWA) mostrou que as ondas de calor acontecem devido às alterações climáticas, porém as temperaturas registadas na América do Norte foram algo muito além do normal e isso pode significar que as previsões dos modelos climáticos podem estar a subestimar as temperaturas extremas que o mundo pode ainda experienciar.