Uma médica estagiária, de 31 anos, foi violada e assassinada, sexta-feira, depois de se ter retirado para dormir numa sala, após um turno cansativo num dos hospitais mais antigos da Índia. O caso está a gerar uma onda de protestos a pedir o fim da violência contra os profissionais de saúde.
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Os colegas encontraram o corpo da jovem na manhã seguinte, com ferimentos graves, segundo explica a BBC. A polícia deteve um funcionário voluntário no hospital RG Kar Medical College, em Calcutá.
O suspeito, com um passado conturbado, teve acesso à zona de enfermaria e foi apanhado pelas câmaras de videovigilância. A polícia alega que não foi realizada nenhuma verificação de antecedentes na admissão do voluntário no hospital.
O crime expôs a insegurança da instituição. Sobrecarregados, os médicos internos não têm sequer casas de banho designadas ou espaços próprios para descanso, obrigando-os a dormir numa sala de seminários.
Esta quarta-feira à meia-noite são esperadas dezenas de milhares de mulheres em Calcutá, e em todo o estado de Bengala, para mais uma marcha de protesto, intitulada "Recuperar a Noite", exigindo "independência para viver em liberdade e sem medo". A manifestação decorre pouco antes de se celebrar o Dia da Independência da Índia, na quinta-feira.
O caso voltou a chamar a atenção para a violência contra médicos e enfermeiros no país. Indignados, os médicos pararam o trabalho em toda a Índia e saíram à rua para reclamar uma lei federal rigorosa que os protega.
Clima de insegurança no país
Este não foi um incidente isolado. No ano passado, em Kerala, uma médica interna de 23 anos foi mortalmente esfaqueada com uma tesoura cirúrgica por um paciente embriagado. Em hospitais públicos sobrelotados e com acesso livre, os médicos enfrentam frequentemente a fúria dos familiares dos doentes, após uma morte ou devido a pedidos de tratamento imediato.
A Índia carece de uma lei federal rigorosa para proteger os profissionais de saúde. Embora 25 estados tenham alguma legislação para prevenir a violência, as condenações são "quase inexistentes", disse à BBC o presidente da Associação Médica Indiana. Uma sondagem de 2015 revelou que 75% dos médicos na Índia enfrentaram alguma forma de violência no trabalho.
Alguns estados como Haryana implementaram seguranças privados para reforçar a vigilância nos hospitais públicos. Em 2022, o governo federal pediu aos estados que destacassem forças de segurança treinadas para hospitais sensíveis, instalassem câmaras, organizassem equipas de resposta rápida, restringissem a entrada de "indivíduos indesejáveis" e apresentassem queixas contra os infratores. Muitas medidas não chegaram a ser implementadas.