Dezenas de opositores, entre eles vários portugueses e luso-descendentes, marcharam, esta terça-feira, até ao Consulado Geral de Portugal em Caracas, onde entregaram um documento pedido "um pronunciamento de solidariedade" do Governo português para com o povo venezuelano.
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"Este documento recolhe um relatório de todas as coisas que têm acontecido em matéria de repressão, de violação dos direitos humanos em Caracas e no resto do país", afirmou o presidente da Câmara Metropolitana de Caracas.
Ao som do hino nacional de Portugal e em frente do Consulado Geral de Portugal, António Ledezma explicou aos jornalistas que esperam "que os governos do mundo façam um pronunciamento de solidariedade com a defesa dos Direitos Humanos".
"Nós não estamos pedindo nenhuma intervenção de nenhum governo estrangeiro como faz o governo venezuelano, que critica a intervenção de qualquer governo estrangeiro mas abre as portas de par em par aos seus amigos de Cuba para que levem o petróleo da Venezuela. Já basta de tanta violência e aqui, entre outras coisas, documenta-se como têm intervindo nestes atos de violência não somente efetivos militares, mas também grupos armados, grupo para-policiais amparados por este governo", disse.
Por outro lado, indicou que está anexado ao documento "um testemunho documental das violações dos mais elementares direitos humanos dos cidadãos venezuelanos. Aqui se descreve com os nomes e apelidos todos os cidadãos que perderam a vida, que têm sido vítimas de lesões, que foram vexados na sua dignidade humana. Aqui estão os nomes, os apelidos, de cidadãos que foram detidos, que continuam privados de liberdade".
"Estamos em frente do Consulado de Portugal porque a Venezuela recebeu, com os braços abertos, milhares de mulheres de homens portugueses que criaram raízes, que têm filhos e criaram netos, e esses descendentes de portugueses também sofrem hoje os embates deste mau governo", enfatizou.
Segundo António Ledezma, "da Venezuela estão falando desde a Madonna até ao Papa".
"Já todo o mundo sabe que aqui estamos numa crise real. Uma crise institucional, porque os poderes perderam autonomia. Uma crise económica, com uma inflação de mais de 60 por cento, uma crise de incompetência do governo, que não detém a delinquência nem a insegurança, e uma crise moral, porque são públicos os factos de corrupção que não são penalizados".
O documento foi entregue a uma funcionária consular e segundo o cônsul-geral de Portugal em Caracas, Paulo Santos, será encaminhado às autoridades portuguesas.
"Vou encaminhá-lo às nossas autoridades, começando sobretudo pela nossa Embaixada, uma vez que nós aqui na Venezuela, dada a dimensão da comunidade, temos o consulado separado da Embaixada. Os assuntos de cariz políticos são acompanhados sobretudo pela embaixada e portanto é a esses meus superiores que eu tenho primeiro de reportar, sendo que paralelamente a informação circula logo para Lisboa", indicou.
Desde o início de fevereiro que a Venezuela vive protestos diários contra a insegurança, escassez de produtos, repressão policial e falta de liberdade de expressão, a maioria organizados de forma pacífica, mas que em alguns casos terminaram em atos de violência que já provocaram, pelo menos, 22 mortos, várias centenas de feridos e mais de um milhar de detidos.