Heranças de milhões de euros e patrimónios infindáveis? Há. Mas há ricos que não os querem e comprometeram-se a doá-los, com a promessa da criação de um Mundo menos desigual e de um futuro mais promissor para os mais jovens.
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Com a chegada de Natal, vem também a promessa de vários milhões no bolso de algum sortudo. Em Portugal, a Lotaria Clássica de Natal vai trazer um presente atrasado de 12,5 milhões de euros. No país vizinho, o "El Gordo" chega aos espanhóis já esta sexta-feira. Avizinha-se o surgimento de novos milionários nos próximos dias, mas os que já o são querem mesmo sê-lo?
Marlene Engelhorn, uma jovem austríaca atualmente de 31 anos, chegou às manchetes no ano passado, quando a avó, Traudl Engelhorn-Vechiatto, de 95 anos, revelou os planos para a herança da família. Marlene é descendente de Friedrich Engelhorn, que fundou a empresa química BASF em 1865. De acordo com a revista "Forbes", o património da família é avaliado em 4,2 mil milhões de dólares (cerca de 3,8 mil milhões de euros).
Inicialmente, foi noticiado que a herdeira, que estudou alemão na Universidade de Viena, queria recusar a sua parte da herança. Porém, em esclarecimentos ao diário catalão "Ara", explicou que pretende redistribuir o dinheiro, doando 90% da fortuna. “Vou herdar uma soma de dois dígitos em milhões de euros, e não a recuso. Quero poder redistribuir pelo menos 90%, de preferência através de impostos. Se não puder fazer isso, vou encontrar o meu próprio caminho”, declarou. “Eu sabia que era rica. Não queria aquele dinheiro, não parecia justo".
Ricos querem pagar mais impostos
Marlene Engelhorn criou, em fevereiro de 2021, o movimento "Tax me now", formado por herdeiros que pede uma tributação maior aos milionários para redistribuir a riqueza de forma mais justa pelos países.
Na Áustria, país de origem da herdeira, não existe imposto de sucessão e nem imposto sobre o património. "O 1% mais rico das famílias austríacas possui quase 40% de todos os ativos. Nas nossas sociedades, a riqueza individual está estruturalmente ligada à pobreza coletiva", disse, numa entrevista em maio de 2022, ao jornal austríaco "Der Standard".
A jovem também faz parte do projeto “Resource Generation”, uma organização que tem como alvo jovens entre os 18 e 35 anos herdeiros de grandes fortunas e que visa o diálogo sobre a redistribuição de riqueza.
Outros casos
Não é a primeira vez que um milionário fala de doar a sua fortuna. Bill Gates e Warren Buffett foram os pioneiros do "Giving Pledge", no qual mais de 240 pessoas como Michael Bloomberg, Larry Ellison, Carl Icahn, Elon Musk e Mark Zuckerberg prometeram doar pelo menos metade da sua riqueza à filantropia.
Em 2006, Warren Buffett prometeu que doaria mais de 99% da sua riqueza. Até este ano, já doou mais de 51 mil milhões de dólares (46,6 mil milhões de euros).
No ano passado, Bill Gates anunciou que quer doar toda a sua fortuna à fundação filantrópica que detém com a sua ex-mulher Melinda Gates e que os seus três filhos herdarão apenas 10 milhões de dólares (9,1 milhões de euros) cada um.
No mesmo ano, Jeff Bezos, fundador da Amazon, afirmou, numa entrevista à CNN, que tenciona doar a maior parte da sua fortuna a causas sociais. Jeff Bezos vale atualmente 176 mil milhões de dólares (cerca de 160 mil milhões de euros) e é a terceira pessoa mais rica do Mundo.
Também a sua ex-mulher, MacKenzie Scott, já prometeu doar pelo menos metade para a caridade. Em 2023, a empresária norte-americana doou quase 2,2 mil milhões de dólares (dois milhões de euros) a instituições de caridade, elevando o total de doações para quase 16,6 mil milhões de dólares (15,1 mil milhões de euros).
O CEO da Meta, Marc Zuckerberg, também declarou que 99% da fortuna será doada à caridade. Assim como Zuckerberg criou a fundação Chan Zuckerberg Initiative, cujo objetivo é oferecer “aprendizagem personalizada, cura de doenças, ligação de pessoas e construção de comunidades fortes” em todo o Mundo. É para o instituto que vai quase todo o património do multimilionário.
Por sua vez, Richard Branson, que vale cerca de 3,9 mil milhões de dólares (3,6 mil milhões de euros), prometeu usar a sua fortuna para criar um "Mundo saudável, equitativo e pacífico para as gerações futuras".