
Gennady Timchenko e Boris Rotenberg são bilionários e aliados de Putin
SERGEI KARPUKHIN and STRINGER / various sources / AFP
Conhecemos o nome de alguns, a profundidade (relativa) dos seus negócios e a sua interdependência com o Kremlin, mas jamais saberemos a real extensão e o ascendente interno deste poderoso braço da influência russa. Quem e quantos são, afinal, os oligarcas que vivem à sombra de Vladimir Putin e que, de forma direta ou indireta, alimentam a sua perpetuação no poder e sobre os quais o Ocidente impôs restrições?
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Mais importante do que tudo, será que o estrangulamento das fortunas e dos movimentos financeiros destes tubarões, levado a cabo, sobretudo, pelos Estados Unidos da América e pelo Reino Unido, terá um real e imediato impacto na mudança da estratégia militar de Moscovo?
As respostas são complexas, em virtude do imenso poder de atuação interna que Putin detém hoje, mesmo junto dos seus mais próximos politicamente. Basta ver a forma humilhante como, há dias, obrigou, um por um, os membros do seu Conselho de Segurança a comprometerem-se com a decisão de reconhecer o direito à autodeterminação das repúblicas do Donbass para se perceber que, neste momento, o presidente russo não aceita ordens de ninguém.
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A este propósito, Angus Roxburgh, autor do livro "The Strongman, Vladimir Putin and the Struggle for Russia", escreveu, no jornal britânico "The Guardian", que a melhor forma de minar a cleptocracia russa não seria atacar os interesses e as fortunas dos magnatas que vivem vidas faustosas em Londres ou noutros paradeiros ocidentais, mas sim cortando as pernas à elite política nacional, porque é essa que, perdendo os privilégios do capitalismo, e ficando "aprisionada" na Rússia sem cartões de crédito, podia efetivamente impor alguma mudança.
"A maioria destas pessoas adora viajar para a Europa e para os Estados Unidos. Educam os seus filhos aqui. Detêm propriedades. Adoram exibir-se nos seus iates, fazer férias na neve e ficar alojada em hotéis de luxo no Ocidente, publicando fotos no Instagram", escreveu o também ex-correspondente da BBC em Moscovo, sublinhando que o efeito cirúrgico desta estratégica poderia ter outra vantagem: agradar ao cidadão russo comum, que seria menos afetado por este bloqueio às elites políticas do que com as imposições decorrentes das sanções a toda a economia.
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Apesar de muito se especular sobre a dependência do Kremlin das fortunas destes magnatas, a verdade é que Moscovo se serve muitas vezes destas torneiras instaladas em paraísos fiscais para fazer jorrar dólares e euros que não fazem perguntas. Esta quinta-feira, a deputada Layla Moran, do Partido Liberal Democrata inglês, usou os privilégios parlamentares para nomear 35 oligarcas russos com ligações ao Reino Unido que deviam ser sancionados, entre os quais Roman Abramovic, que adquiriu recentemente cidadania portuguesa, por ser descendente de judeus sefarditas. Já Joe Biden, presidente norte-americano, estimou que as sanções impostas aos interesses dos milionários nos Estados Unidos representavam uma perda imediata de cerca de 28 mil milhões de euros.
Afinal, quem são e que fortunas detêm estes magnatas e membros influentes da elite russa? Damos alguns exemplos.
Gennady Timchenko
Considerada uma das pessoas mais poderosas da Rússia, este bilionário é um aliado de Vladimir Putin. De acordo com a revista Forbes, o empresário de 69 anos vale qualquer coisa como 20 mil milhões de euros, tendo participações em múltiplos negócios, que vão da empresa de gás Novatek à petroquímica Sibur Holding. Detém o grupo de investimento privado Volga, especializado em investimentos em ativos de energia, transporte e infraestruturas. É igualmente presidente da liga nacional de hóquei russa e presidente do clube de hóquei em gelo de São Petersburgo. É amigo de Putin desde os anos 1990. Na ocasião, o agora presidente russo estava em ascensão e o empresário era comerciante de petróleo. É ainda cofundador da Gunvor, uma multinacional que exporta quantias avultadíssimas em petróleo e um dos principais acionistas do Rossiya, um dos cinco bancos russos que foram sancionados pelo governo britânico. Em 2014, também os Estados Unidos da América tinham imposto sanções ao bilionário russo, aquando da invasão da Crimeia.
Boris Rotenberg
Amigo de infância de Vladimir Putin, é co-proprietário, com o irmão Akkady, do SMP, um banco influente que serviu para financiar o regime. A proximidade com o presidente russo é tal que costuma ser seu parceiro de judo e de hóquei em gelo. Na avaliação feita à sua fortuna pela revista Forbes, detém nas suas mãos cerca de mil milhões de euros. Também em 2014 viu os seus bens congelados pelos Estados Unidos. O Tesouro norte-americano alegara que Putin tinha concedido contratos chorudos à família de Rotenberg envolvente a Gazprom e para os Jogos Olímpicos de Sochi. Porém, a cidadania finlandesa ajudou-o a livrar-se desse espartilho.
Igor Rotenberg
Filho do bilionário Arkady Rotenberg, o empresário de 48 anos é apontado como muito próximo de Putin. Controla a empresa de perfuração Gazprom Bureniye e vale cerca de mil milhões de euros, ainda de acordo com a Forbes. Comprou as participações do pai nalgumas empresas depois das sanções que lhe foram impostas em 2014. É ainda presidente do conselho de administração da National Telematic Systems e acionista da RT-Invest Transport System, empresas consideradas estratégicas para o regime russo. Ocupa um "modesto" 93º lugar entre os 100 mais ricos da Rússia.
Denis Aleksandrovich Bortnikov
Diretor do Serviço Federal de Segurança (FSB) da Federação Russa e membro permanente do Conselho de Segurança da Federação Russa. É atualmente vice-presidente da instituição financeira estatal russa VTB Bank Public Joint Stock Company e presidente do conselho de administração do banco VTB.
Petr Mikhailovich Fradkov
Presidente e CEO do banco PSB, é filho de Mikhail Efimovich Fradkov, ex-primeiro-ministro da Rússia e ex-diretor do Serviço de Inteligência Exterior. Desde 2018, trabalha para transformar o PSB num banco que serve a indústria de defesa e apoia os contratos de defesa do Estado. Participou em diversas reuniões de trabalho com Putin e de mesas redondas em fóruns internacionais sobre os planos estratégicos de longo prazo do banco para apoiar a indústria de defesa russa.
Vladimir Sergeevich Kiriyenko
É o primeiro vice-chefe de Gabinete Presidencial. É apontado como o estratega da política interna de Putin. Foi primeiro-ministro da Federação Russa e diretor-geral da Corporação de Energia Atómica. Trabalhou anteriormente como vice-presidente da empresa estatal russa Rostelecom e atualmente é o CEO do VK Group, a empresa que controla a principal plataforma de Comunicação Social da Rússia, a VKontakte.
