O amanhecer deixou à vista a destruição que os bombardeamentos russos infligiu em várias cidades do leste da Ucrânia.
Corpo do artigo
Uma mulher grita sobre o corpo de um homem, morto durante um bombardeamento russo no bairro residencial de Chuguev, no leste da Ucrânia, um dos primeiros alvos da invasão lançada pela Rússia, esta quinta-feira. Perto do cadáver, o filho, prostrado, chora. "Disse-lhe para ir embora", repete, junto aos restos carbonizados de um antigo veículo da marca Lada.
14619052
O míssil deixou uma cratera de quatro a cinco metros de diâmetro entre dois prédios de cinco andares totalmente destruídos, no bairro, na cidade a 30 quilómetros da Kharkiv, a segunda maior do país. Os bombeiros ainda tentam extinguir as últimas chamas. Mesmo os prédios mais afastados do local onde caiu o míssil ficaram danificados.
Os bombardeamentos russos ressoaram durante parte da noite. A polícia não divulgou o balanço dos estragos, mas, à luz da manhã, estes pareciam consideráveis. Quatro edifícios ficaram completamente destruídos. Acima deles, pairava uma espessa coluna de fumo preta visível de longe.
Sergei, de 67 anos, sofreu algumas contusões durante o bombardeamento, mas apesar dos ferimentos tenta cobrir as janelas do andar térreo de casa com uma mesa. "Vou ficar aqui. A minha filha está em Kiev e lá está como aqui", relata o ucraniano, referindo-se às explosões registadas durante a manhã nas principais cidades do país, incluindo a capital. Segundo conta, o míssil que lhes caiu em cima tinha como destino o aeroporto militar próximo. "Fazia parte dos alvos que Putin indicou. Nem fiquei surpreendido", continua.
14619314
"Defender minha pátria"
A ameaça não chega apenas do céu. A guarda de fronteira ucraniana anunciou incursões terrestres russas em vários pontos. No leste, a população da região separatista de Lugansk, endurecida por oito anos de conflito armado com rebeldes pró-Rússia, tem muita clareza sobre o que fazer.
"Se nos continuarem a bombardear, vou procurar armas para defender minha pátria. Pouco importa se tenho 62 anos", promete Vladimir Levashov, morador de Chuguev. "Se olhar para a história, se for ler os livros, há 300 ou 400 anos era a mesma coisa. Os russos são saqueadores", revolta-se.
O Exército ucraniano é omnipresente nas principais estradas do leste. Entre Kramatorsk e Carcóvia, um comboio de veículos com a bandeira ucraniana amarela e azul está parado.
A 300 quilómetros de distância, em Mariupol, potentes explosões sacudiram a principal cidade portuária do leste do país, relativamente poupada das hostilidades das últimas semanas. Nessa área, perto da linha de frente, começa a retirada da população civil, em aldeias como Zoloty e Gorsky.
"Levaremos a população até a estação de comboio mais próxima", anunciou o porta-voz da Defesa Civil, Alexei Babchenko.
Mais longe, no município de Novotoshkovka, a retirada deixou de ser possível. Horas após o início do ataque, os disparos da artilharia russa são muito intensos e as comunicações complicadas.
"A ofensiva está em andamento sobre toda linha de demarcação nas regiões de Lugansk e Donetsk", descreveu Babchenko, acrescentando que "os combates acontecem em todo o lado".
"Ainda não conseguimos receber informações sobre as vítimas, porque não há comunicação essa área", concluiu.