A vice-presidente do Governo regional catalã mostra-se esperançada que haja uma participação elevada na consulta de dia 9 de novembro, afirmando que poder votar, depois de tantos obstáculos impostos por Madrid, "já é uma vitória".
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"Desejo que haja uma participação muito alta. Mas qualquer que seja o resultado não será nem o fiasco nem a vitória da CiU ou de qualquer outro partido", disse em entrevista à Lusa Joana Ortega.
"Este voto é o triunfo da democracia na Catalunha. E independentemente do resultado, se votarmos, teremos ganho", sublinhou afirmando que, "ao dia de hoje" ainda confia na abertura dos locais de voto.
No dia 09 de novembro, os catalães vão participar numa consulta popular para discutir a independência da região, uma ação que tem sido contestada por Madrid, que impediu a realização de um referendo formal.
Joana Ortega, que garante que votará no dia 9 na zona de Eixample, onde vive no centro de Barcelona, conversa com a Lusa no seu escritório, no 7º andar de um dos edifícios da Generalitat, na Via Laietana, com uma vista magnífica para a Catedral de Barcelona.
Um andar mais abaixo, no edifício, está a "área de processos eleitorais e consultas populares" - é nestas competências que o Governo regional se baseia para alterar o formato da consulta, trocando funcionários por voluntários e sem cadernos eleitorais.
"Quando foram os Olímpicos de Barcelona fizeram uma campanha durante um ano e meio e, em toda a Espanha, conseguiram 100 mil voluntários. Nós, numa semana, pedimos voluntários e conseguimos 40 mil, o dobro do que antecipávamos", explica.
"Isto é uma expressão clara que de que as pessoas querem votar", sublinha.
E critica as contradições do Governo espanhol que, diz, numa semana "ridiculariza" o processo, considerando que é "um sucedâneo de consulta, ou uma pseudoconsulta" e agora move Conselho de Estado, Conselho de Ministros e Tribunal Constitucional para travar o que disse ser uma anedota.
Ortega, que admite que o processo se tornou algo surrealista - em parte, considera, "pelas ações do Governo espanhol que impede os catalães de serem consultados" - tem sido o rosto do processo logístico do voto.
Porém, e apesar destas funções, muitos na política catalã apontam a alguma fricção com Artur Mas, o presidente regional, com Ortega descontente como o novo modelo de consulta, anunciado depois da suspensão do Tribunal Constitucional do voto inicialmente convocado.
Questionada sobre essas divisões internas, Ortega diz que o jornalista "foi mal informado" e que sempre esteve ao lado deste processo, deste compromisso com a cidadania e de Artur Mas.
"Este processo nasceu das conversas que temos tido nesta casa e sinto-me perfeitamente cómoda com ele. Sempre sou uma pessoa que sempre procurei e defendi que atuássemos dentro da conciliação e harmonizando entre a legalidade e a legitimidade", disse.
"Mas agora não estamos fora da legalidade, estamos a fazer um processo participativo que se insere nas competências do governo regional. Madrid diz que só podemos perguntar sobre o que eles decidem que podemos perguntar", disse.
Os catalães, insiste, "têm o direito de ser ouvidos sobre qualquer coisa" e o Governo não está a executar políticas e só quer ouvir os seus cidadãos e, depois disso, com conhecimento de causa, então "propor ao Estado uma serie de politicas que vão na linha" do que digam os cidadãos.
"Não nos deixam fazer referendo. Procuramos uma outra alternativa legal, para realizar uma consulta, com uma lei aprovada pelo parlamento e que se insere nas competências da autonomia sobre consultas populares e processo de participação e também não nos deixam", afirmou.
"Temos um compromisso com a cidadania, aprovado por mais de 80% do parlamento, que é dar a voz aos cidadãos para que expressem como querem que seja o futuro da Catalunha. Mas parece que também temos uma negativa do Estado", disse ainda.
Ortega insiste que o ato de dia 9 não e um vinculativo mas um mero processo de participação que cumpre "uma norma essencial da política que é ouvir as pessoas" sobre o que pensam.
"Vamos ouvir as pessoas e a partir daqui, sem nenhuma obrigação, porque não é vinculante, saberemos quanta gente no nosso país é favorável a que a Catalunha seja um Estado e quantos dentro desta opção, querem que a Catalunha seja independente", disse.
Para Ortega, cada vez que o Governo espanhol recorre ou criar obstáculos a que Catalunha se possa expressar, "alimenta a que mais gente queira ir votar", usando de forma "perversa" o Tribunal Constitucional.
"Há uma atitude clara do PP de fechar a boca à Catalunha, de evitar que a Catalunha se possa expressar. E isso tem uma resposta. Estas manifestações massivas e esta explosão de civismo que há na Catalunha", disse.
"Cada vez que o TC nos negue a nossa democracia, a nossa vontade de nos expressar, sairá mais gente à rua e cada vez mais gente se radicalizará", disse, considerando que aumentam tanto os independentistas como os que querem outro modelo de relação com Espanha.