Pedro Sánchez, presidente do Governo de Espanha, considerou este sábado que Vladimir Putin realizou "um referendo de pantomina" para poder anexar regiões da Ucrânia e exigiu que este abandone o território ocupado.
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Sanchez falava por videoconferência (testou positivo à covid-19) nos momentos finais do fórum La Toja, e começou o seu discurso afirmando que nem Espanha, nem a Europa, nem a comunidade internacional vão "reconhecer, nunca, a ocupação ilegal" das regiões ucranianas. "Exigimos a Putin que abandone a Ucrânia quanto antes, pondo fim a esta guerra ilegal e injusta. Putin sabe que não está a ganhar a guerra e também que cada dia está mais sozinho. Portanto, deve o quanto antes tomar a decisão correta de pôr fim a esta guerra, será melhor para todos e para ele", afirmou o chefe de Governo espanhol.
A propósito da crise energética que agora se vive, Pedro Sánchez recordou que, quando há um ano participou no encerramento daquele mesmo fórum, ao lado de António Costa, já então ambos se mostravam preocupados. "Tanto a intervenção do primeiro-ministro português como a minha abordaram uma preocupação crescente com a subida dos preços da energia e a necessidade de abrir o debate e ter uma reserva estratégica de gás na Europa", disse. Na altura, falou-se "da ilha energética" e da necessidade de conceber "uma resposta conjunta da União Europeia a uma problema que podia ameaçar o crescimento, o emprego e incrementar as tensões inflacionistas no nosso continente".
"Falámos do elefante na sala, que naquele momento parecíamos ser tão poucos os preocupados por estar a vê-lo", comentou, defendendo, parafraseando Emmanuel Macron, que, nessa área, "há que fazer da exceção ibérica a norma europeia".
A guerra na Ucrânia e os seus impactos estiveram este ano no centro das atenções do fórum La Toja, que iniciou na quinta-feira e terminou este sábado. Um derradeiro painel de debate foi dedicado ao tema "O ressurgir do Vinculo Atlântico", com a presença de Juan Francisco Martinez Núñéz, secretário geral da Política das Defesas espanhol, e de Thomas Hitschler, vice-ministro da Defesa da Alemanha. Este último falou do forte investimento (100 mil milhões de euros) nas forças armadas alemãs e da entrega, "pela primeira vez na História, de armas pesadas a um país", a Ucrânia, considerando que a invasão russa veio provocar uma viragem histórica na defesa europeia.
"Putin subestimou a OTAN"
"A 'Otanização' da Europa faz parte desta mudança de era. Putin subestimou a NATO. No entanto, a Europa não é o contraponto. Devemos preocupar-nos com a nossa própria defesa com um foco de 360 graus e olhar para o sul. A Alemanha é vital", afirmou Thomas Hitschler, comentando que o líder russo "atua como um jogador de xadrez, como um agente secreto, como político e como militar". "Atua a todos os níveis, também no económico. E considero que esta farsa deste referendo ilegal não vai ser reconhecido pela Alemanha. Vamos continuar a apoiar a Ucrânia e não vamos estar ao lado de Putin. Vamos apoiar a Ucrânia o tempo que for necessário", sublinhou.
Juan Martinez Núñéz, secretário geral da Política das Defesas espanhol, afirmou, por seu turno, que Vladimir Putin está a "jogar com a incerteza de utilizar a arma nuclear para forçar uma negociação". "É um gesto desesperado e perigoso", considerou.
Quanto à unidade europeia face ao conflito e às consequências deste, referiu: "Estamos num momento de construção e devemos aproveitar a confiança que se gerou. O trabalho dos nossos líderes resultou num novo documento que supera o Tratado de Lisboa".
Ao encerrar a quarta edição do fórum La Toja, que dedicou o seu prémio anual à bravura do povo ucraniano, Josep Piqué, presidente do evento, mostrou-se animado com "o excecional debate", este ano centrado "na criminosa, ilegal e injustificada agressão russa à Ucrânia". E resumiu: "Este fórum pretende ser um campo onde o consenso prime sobre a falta dele. Espanha viveu o melhor momento da sua história graças à construção de consensos básicos que contribuem para que um país seja fiável e respeitem as suas convicções".