Perfil: Rei Abdullah procurou modernizar reino conservador com resultados desiguais
O rei saudita Abdullah tinha 80 anos quando ascendeu ao trono em 2005, mas apesar de idade avançada procurou de forma enérgica libertar o reino da dependência do petróleo e da influência dos extremistas islamitas.
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Com base na imensa riqueza do reino, alicerçada no petróleo, Abdullah, que morreu na quinta-feira com 90 anos, lançou projetos para construir cidades, universidades e autoestradas.
O falecido rei procurou converter o país de um terreno de criação de radicais num parceiro moderado e construtivo na política internacional.
Em 2011, Abdullah resistiu às convulsões da designada Primavera Árabe, que derrubou vários líderes na região, mobilizando vastas somas de dinheiro para procurar satisfazer a população.
Mais recentemente, a Arábia Saudita foi um dos vários Estados do Golfo que participaram na campanha aérea, liderada pelos EUA, contra o grupo designado Estado Islâmico na Síria.
A sua nação também liderou de forma inflexível a recusa dos apelos de outros países produtores de petróleo para reduzir a produção.
Mas, ao longo dos anos, a idade de Abdullah e a sua inclinação para o consenso permitiu que os conservadores resistissem às suas reformas, por entre uma falta de clareza quanto ao futuro da monarquia.
Desde a morte, em 1953, do rei Abdul Aziz bin Saud, fundador da Arábia Saudita, que o trono tem passado sistematicamente de uns dos seus filhos para outros, irmãos e meios-irmãos.
Mas muitos dos filhos do primeiro rei estão mortos ou idosos. Dois príncipes herdeiros, Sultan e Nayef, morreram em 2011 e 2012.
O meio-irmão de Abdullah, Salman, o príncipe herdeiro que foi nomeado rei esta quinta-feira, está na casa dos 80 anos e com pouca saúde.
Em março de 2014, Abdullah nomeou outro meio-irmão, o príncipe Moqren, como um segundo herdeiro ao seu trono, uma decisão inédita pensada para garantir uma transição pacífica.
O comunicado do Palácio Real, de sexta-feira, nomeou Moqren, o mais novo dos filhos de Abdul Aziz, como o novo príncipe herdeiro.
Abdullah tinha estabelecido uma Comissão da Sucessão, em 2006, para institucionalizar o processo de sucessão.
Sem ser atingido pelos desregramentos e excessos de muitos dos príncipes, Abdullah era muito popular entre os seus súbditos e seguidor da tradicional vida dos beduínos.
Apesar de ser o 13.º filho do rei Abdul Aziz, Abdullah era o único filho da sua mãe, que pertencia à tribo beduína dos Shammar.
Esta situação deixou Abdullah com uma relativa pequena base de apoio entre os muitos príncipes da sua geração.
Nos anos de 1960, foi-lhe confiado o comando da Guarda Nacional, a segunda principal instituição da área da defesa, cargo que manteve até 2009, quando o passou para um dos seus filhos.
Esta posição permitiu-lhe construir relações com a miríade de tribos do reino, que preencheram os efetivos da força, que foi um dos principais pilares da sua autoridade.
Abdullah tornou-se príncipe herdeiro quando o seu meio-irmão Fahd ascendeu ao trono em 1982. A sua ascensão ao trono, em 1995, foi feita perante a rivalidade do clã de Fahd, que era proveniente dos Sudairy.
A partir do final dos anos 1990, promoveu mudanças importantes. Desenvolveu um conselho consultivo, reforçou o controlo sobre as finanças do país e começou a modernizar o sistema da justiça islâmica.
Os conservadores foram desafiados com o apoio que deu a clérigos mais modernistas, a criação de organizações de direitos humanos e o lançamento de uma universidade que, pela primeira vez, permitiu que homens e mulheres se misturassem, para estudar, sem quaisquer restrições.
Não obstante, o seu reino continua a ser fortemente criticado por um registo perturbador nos direitos humanos, incluindo a detenção de dissidentes.
A Arábia Saudita é o único país do mundo que não permite que as mulheres conduzam.