Pontos-chave do 22.º dia de guerra: uma cidade martirizada e a "autopurificação" russa
Continuam as operações de resgate no teatro atacado na quarta-feira na martirizada cidade de Mariupol, onde 80% a 90% dos edifícios foram destruídos. Enquanto isso, o número de mortes aumenta com os ataques em várias cidades e Putin fala em purificação da Rússia. Eis os pontos-chave deste 22.º dia de guerra na Ucrânia.
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- Em Mariupol, o cenário é catastrófico: de acordo com as autoridades locais, 80% a 90% dos edifícios da cidade foram destruídos pelas forças russas. Cerca de 30 mil civis já fugiram, estando ainda cerca de 350 mil pessoas escondidas em abrigos e porões. Centenas de mulheres e crianças estavam escondidas no teatro, abrigo para civis deslocados, que foi bombardeado na quarta-feira. A palavra "Children" (crianças) foi escrita em letras gigantes (visíveis do céu) à frente do edifício, para protegê-lo, mas o aviso não evitou o bombardeamento das tropas russas. Até cerca das 19 horas (hora portuguesa), já tinham sido resgatadas com vida cerca de 130 pessoas, mas as operações continuam a decorrer.
- Mais de 20 pessoas morreram e 25 ficaram feridas (10 em estado grave) num ataque aéreo russo durante a madrugada, que destruiu uma escola e um centro comunitário em Merefa, perto da cidade de Kharkiv, no nordeste da Ucrânia, disseram as autoridades locais.
- Na cidade de Chernihiv, no norte da Ucrânia, as perdas aumentam: o governador, Viacheslav Chaus, disse hoje que 53 pessoasforam mortas pelas forças russas só na quarta-feira. Uma das vítimas era um cidadão norte-americano.
- Na capital, Kiev, pelo menos uma pessoa morreu e três ficaram feridas depois de vários fragmentos de um míssil russo, derrubado por forças ucranianas, terem caído num prédio.
- De acordo com o ministério da Defesa ucraniano, desde o início da guerra, as forças russas já sofreram a perda de 14 mil militares, 444 tanques, 1435 veículos blindados, 201 sistemas de artilharia, 72 sistemas de foguetes, 43 sistemas antiaéreos, 86 aeronaves, 108 helicópteros, 864 veículos terrestres, três barcos, 60 tanques de combustível, e 11 drones táticos. O balanço está alinhado com o anúncio norte-americano de hoje: um alto funcionário da Defesa dos EUA disse que há sinais de um enfraquecimento das tropas russas em algumas unidades e que algumas forças da retaguarda estão a ser mobilizadas para as primeiras linhas de combate com "artilharia de longo alcance", sugerindo que "continuam a querer realizar um cerco de Kiev".
- As negociações para um cessar-fogo na Ucrânia podem incluir uma "reunião especial" entre o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e o russo, Vladimir Putin, admitiu o negociador ucraniano Mykhailo Podolyak, que estimou que a "reconciliação dos conflitos" possa demorar entre alguns dias e uma semana e meia. Já o ministro da Defesa do país, Oleksii Reznikov, que liderou a delegação ucraniana nas negociações, disse que está a ser elaborado um acordo de paz entre Kiev e Moscovo e que este depende de o Kremlin aceitar um cessar-fogo. Mas as autoridades ocidentais alertam que ainda existe uma "lacuna muito grande" entre a Ucrânia e a Rússia e que há poucos sinais de um avanço iminente.
- Falando por videoconferência perante o Parlamento alemão, o presidente ucraniano criticou a falta de ação da União Europeia antes da invasão da Rússia e, agora que há uma guerra, instou a Alemanha a "adotar o papel de líder que merece". Apelou ainda ao chanceler alemão, Olaf Scholz, para "derrubar" o muro erigido pela Rússia na Europa, fazendo uma referência ao discurso do ex-presidente norte-americano Ronald Regan, em 1987, que apelou ao então homólogo russo, Mikhail Gorbachev, para derrubar o Muro de Berlim.
- Vladimir Putin acusou os russos que não apoiam a invasão da Ucrânia de serem traidores e falou de uma "autopurificação" da sociedade russa. Os russos "serão sempre capazes de distinguir os verdadeiros patriotas da escória e traidores, e simplesmente os cuspirão, como um mosquito que acidentalmente voou para as suas bocas", disse o presidente russo.
- O presidente dos EUA, Joe Biden, vai conversar com o homólogo chinês, Xi Jinping, na sexta-feira, para discutir a guerra na Ucrânia "e outras questões de interesse mútuo", informou a Casa Branca. Uma autoridade chinesa criticou hoje o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, por ter dito que a China tinha a obrigação, como membro do conselho de segurança da ONU, de ajudar a pôr fim ao conflito.
- A Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) suspendeu uma missão conjunta com a Rússia para enviar um robô para Marte, devido à impossibilidade de manter a cooperação com a congénere russa Roscosmos, por causa da guerra na Ucrânia.
- A imagem da Virgem Peregrina de Fátima chegou, esta quinta-feira de manhã, à principal Igreja Greco-Católica de Lviv, na Ucrânia, e por lá vai ficar durante um mês. A réplica partiu do Santuário de Fátima, na terça-feira, depois de um pedido feito pelo arcebispo metropolita greco-católico de Lviv, Ihor Vozniak. Leia mais aqui.
Balanço
- Vítimas: a guerra na Ucrânia provocou, até ao fim do dia de quarta-feira, pelo menos 780 mortos e 1252 feridos entre a população civil, incluindo mais de uma centena de crianças, anunciou esta quinta-feira o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, contabilizando 58 crianças mortas e 68 feridas. A agência da ONU acredita, no entanto, que os números reais de baixas civis "são consideravelmente mais elevados, especialmente em território controlado pelo Governo" ucraniano, mais sujeito à ofensiva russa.
- Refugiados: segundo o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, mais de 100 mil pessoas fugiram da Ucrânia nas últimas 24 horas. No total, a guerra já causou mais de 3,16 milhões de refugiados (metade são crianças) e mais de dois milhões de deslocados internos. A embaixadora da Ucrânia em Lisboa disse que Portugal já concedeu o regime de proteção temporária a mais de 11 mil refugiados ucranianos, adiantando que também foram criadas condições para que mais de 300 crianças refugiadas possam estudar.
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