A inesperada visita do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ao supermercado 'kosher' atacado na sexta-feira num bairro judeu de Paris concentra esta segunda-feira as atenções das pessoas que vieram colocar velas perto do local.
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A rotunda da Avenida da Porta de Vincennes foi cortada ao trânsito e mais de vinte carrinhas das forças de segurança alinharam-se junto ao passeio onde está o supermercado, enquanto dezenas de agentes se dispersaram pela avenida e outros tantos formam um cordão de segurança em frente à concentração de pessoas do outro lado da estrada, em frente ao supermercado.
À chegada, o cortejo de carros pretos foi saudado com repetidos "bravo" e "Bibi" (a alcunha de Netanyahu), e as pessoas que tinham aguardado ao frio cantaram o hino de Israel e o hino de França.
O supermercado Hyper Casher foi palco de uma das duas tomadas de reféns ocorridas na passada sexta-feira em França, ambas relacionadas com os atentados de quarta-feira ao jornal satírico Charlie Hebdo.
Quatro reféns foram mortos por Ahmedy Coulibaly, um jiadista, antes deste ser abatido pela polícia francesa.
"Conhecia um jovem, muito gentil, que estava a preparar o seu casamento. E também conhecia o empregado muçulmano que salvou as pessoas", contou Malka Attia, residente do bairro, citado pela agência Lusa.
Nathalie Fitoussi mora no décimo nono bairro parisiense e não quer que lhe tirem fotografias porque diz que "um dos terroristas vivia perto" de sua casa e conhece "os bandos que por lá moram".
"Eu também ia ali fazer compras. Vim cá porque faço parte da comunidade judaica, tenho a impressão que é um filme e acho que tudo começou com o atentado contra uma escola judaica em Toulouse, há três anos", continua Nathalie, de 47 anos.
A cabeleireira está a pensar ir para Israel porque tem "medo de ficar em França", depois de o primeiro-ministro israelita ter convidado os franceses judeus a irem para Israel.
"A porta de Israel esteve sempre aberta. Os franceses partem para Israel porque sentem que há mais segurança lá. Apanhei o elétrico e não vi nenhum polícia. Já antes do atentado pensava partir. Tenho três irmãos em Natanya e Ranana e uma irmã que vai partir a 9 de fevereiro. Tenho de zelar pelo futuro dos meus filhos", afirmou à Lusa.
"Na sexta-feira, ao meio-dia, vim aqui fazer as compras, estava cheio de gente, estacionei o carro em frente e depois parti", conta Laurent, de 56 anos, residente do bairro e que prefere não avançar o apelido.
"Conhecia Yohan, que trabalhava ali. Ele costumava fechar o supermercado às 14h às sextas-feiras para o Shabbat", acrescentou, dizendo estar "ainda chocado", assim como a esposa, que "estava em pânico" porque pensava que o marido ainda estava no local.
Agora pensa trocar a França pelos Estados Unidos porque até o "filho tem medo de apanhar os transportes", continuou.
"Eu nasci apátrida porque os meus pais eram clandestinos, já que tinham emigrado da Polónia com os meus avós. Eles vieram na altura da subida do nazismo porque na Polónia havia muito antisemitismo nos anos 30", contou à Lusa Daniel, que também não quis avançar o apelido por medo.
O médico de 66 anos relembrou que "durante a Segunda Guerra Mundial, a porteira denunciou os avós e eles foram para [o campo de concentração] Auschwitz e nunca regressaram". Agora considera trocar a França pelo Canadá.
No mesmo dia do ataque ao Hyper Casher, em Dammartin-en-Goële, uma localidade a norte de Paris, a polícia cercou e matou dois dos suspeitos do ataque ao Charlie Hebdo, que se refugiaram numa empresa gráfica, fazendo um refém que acabou por escapar ileso.