Os paraguaios vão hoje às urnas para votar nos cargos de governador, senador, deputado e presidente. A eleição para definir quem comandará o Executivo com sede em Assunção também será uma forma de plebiscito sobre o futuro das relações do país sul-americano com a China - quer seja representada por Taipé ou por Pequim.
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O candidato da Oposição, Efraín Alegre, afirmou em janeiro e reafirmou este mês a necessidade de reavaliar a situação com Taiwan, queixando-se de não ver o território asiático "a fazer o mesmo esforço que o Paraguai" nas relações diplomáticas. "Se optarmos por Taiwan, como tem sido feito, significa que estamos a perder todas as oportunidades que se observam de um relacionamento com a China, o que não é pouca coisa", salientou o presidenciável.
O Paraguai é o maior país do Mundo e o único da América do Sul a reconhecer a República da China - sediada na ilha Formosa e com Taipé como capital - em vez da República Popular da China - o país continental e populoso com o poder central em Pequim, liderado pelo Partido Comunista Chinês. Taiwan mantém ainda relações diplomáticas com outros 12 estados soberanos: Belize, Essuatíni (antiga Suazilândia), Guatemala, Haiti, Ilhas Marshall, Nauru, Palau, São Cristóvão e Neves, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas, Tuvalu e Vaticano.
Taipé recebeu as declarações de Alegre com "perplexidade", afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Joseph Wu. "O Paraguai tem um relacionamento de longa data connosco, e este relacionamento é também muito estável. Faremos o possível para manter relações diplomáticas", assinalou. Segundo a alfândega paraguaia, citada pela consultora MF, o país sul-americano importou, em 2021, o equivalente a 38,5 milhões de dólares de Taiwan e 3,8 mil milhões da China continental, enquanto exportou 158,4 milhões de dólares para a Formosa e apenas 30,6 milhões para a China.
Já o candidato apoiado pelo Governo defendeu a existência de um "importante triângulo geopolítico" para o Paraguai, composto por Washington, Jerusalém e Taipé. "Sabemos que temos de avançar num processo de industrialização e as nossas chances são muito mais certas com um país como Taiwan do que com um país como a China", afirmou Santiago Peña, que relembrou que a atual economia paraguaia é "eminentemente agropecuária e produtora de matéria-prima".
os implacáveis colorados
O partido de Santiago Peña, a Associação Nacional Republicana, de Direita, é mais conhecido como Partido Colorado e comandou o Paraguai em 70 dos últimos 75 anos, incluindo numa ditadura de três decadas, entre 1954 e 1989. Os únicos cinco anos sem um colorado na presidência foram entre 2008 e 2013. Fernando Lugo, do Partido Democrata Cristão, foi o chefe de Estado até 2012, quando foi destituído pelo Congresso, sendo substituído pelo vice-presidente Federico Franco, do Partido Liberal Radical Auténtico (PLRA), que completou o mandato.
Efraín Alegre, também do PLRA, participa na Concertação Nacional, coligação de centro-esquerda com 14 partidos que tenta derrotar os aparentemente implacáveis colorados. Uma sondagem divulgada a 25 de abril pelo AtlasIntel aponta para uma vitória de Alegre, com 34,3% das intenções, enquanto Santiago Peña reúne 32,8% dos votos. Outras pesquisas apontam, no entanto, uma grande vantagem do colorado.
Numa eleição de volta única, tão renhida e imprevisível, os votos no candidato antissistema Paraguayo "Payo" Cubas, ex-senador que perdeu o mandato em 2019 por agressões, podem fazer a diferença. O chamado "Bolsonaro do Paraguai", como classificou a BBC, tem 23% das intenções na sondagem do instituto AtlasIntel.
Fim das relações formais
2023 Honduras
2021 Nicarágua
1992 Coreia do Sul
1979 Estados Unidos
Jimmy Carter reaproximou Washington de Pequim, mantendo relações não-oficiais económicas com a Formosa. Os EUA, através do "Taiwan Relations Act", criado ainda em 1979, prometem auxiliar defensivamente o território caso os sistemas de segurança, social ou económicos sejam ameaçados.
1975 Portugal
1974 Brasil
1973 Espanha
1972 Alemanha Ocidental, Austrália, Japão
1971 México, Turquia
1970 Canadá, Itália
1964 França
1960 Cuba
1950 Países Baixos, Reino Unido, Suíça
1949 Índia, URSS
Um dia após a fundação da China Popular, a vizinha União Soviética (URSS) cortou relações com a República da China, atualmente sediada em Taiwan. Mao Zedong e Estaline assinariam, em 1950, um tratado de amizade e aliança entre os dois países.
Laços históricos
As relações sino-portuguesas remontam a 1513, quando navegadores lusos chegaram a Tamão (Hong Kong).
China Popular
Em 1975, no contexto revolucionário pós-25 de Abril, o Governo português considerou Pequim como o "único Governo legal da China e Taiwan como parte integrante da República Popular da China" - facto que resultaria na devolução de Macau à China, em 1999.
Comércio taiwanês
As relações comerciais entre Portugal e Taiwan permanecem, com a ilha a ocupar a 23.ª posição nas importações portuguesas.