Não nasceu sob a influência das elites, mas o império que criou fez emergir uma amizade com o presidente. O líder do grupo Wagner terá morrido, esta quarta-feira, na queda de um avião, na Rússia.
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Presença assídua no núcleo duro de Vladimir Putin, Yevgeny Prigozhin tornou-se um nome de confiança entre as mais altas figuras do Kremlin. A fúria e a revolta alimentadas pelos dissabores da guerra, contudo, transformaram o fundador do grupo Wagner no improvável maior inimigo do presidente russo.
Depois de uma década atrás das grades, Prigozhin entrou, na década de 1990, no universo da restauração e converteu-se no rei dos cachorros-quentes. Mas o empresário, que não nasceu entre elites, queria alcançar outros voos e, com o dinheiro faturado no negócio do fast food, abriu uma empresa de catering de luxo. Foi a servir convidados ilustres nos jantares de Estado que começou a privar com o presidente e a absorver os meandros das ligações do Kremlin, acabando por conquistar o título de “Chef de Putin”.
Em 2014, Prigozhin viria a criar o grupo Wagner, uma milícia paramilitar que, embora nunca se tenha assumido como braço armado da Rússia, interveio na anexação da Crimeia. Seguiram-se anos dedicados ao desenvolvimento da Internet Research Agency que, de acordo com o próprio, foi fundada “para proteger o espaço de informação russo”. A “fábrica de trolls” fez com que o russo, de 62 anos, passasse a ser procurado pelo FBI, devido a suspeitas de interferências nas presidenciais de 2016, que deram a vitória a Donald Trump.
Alheado do mandado de captura, em 2022 voltou a direcionar as atenções para os Wagner, mas foi depois de arrastar os mais de 25 mil homens para Bakhmut que ganhou protagonismo.
Passo a passo, os paramilitares alcançaram, ao longo de dez meses, pequenos sucessos que culminaram na vitória. No final de maio, a recaptura de Bakhmut estava finalizada e Prigozhin propôs passar a cidade para as mãos dos invasores. Até aqui chegar, porém, passaram-se meses de críticas ao Ministério da Defesa russo, alegando falta de armas.
Num dos vídeos publicados, Prigohzin mostrou centenas de mercenários mortos e chegou a fazer ameaças a altas patentes russas. Nunca tocou no nome de Putin, tal como o presidente nunca reagiu às acusações de abandono. No entanto, agora tudo mudou. O ódio de Prigozhin explodiu e, apesar do recuo, ninguém vai esquecer o que aconteceu. Resta saber como ficará a relação com o patrão do Kremlin.v