Palestinianos desesperados por sair do território pagam entre quatro mil e onze mil dólares para chegar ao Egito. Investigação denuncia rede suspeita e traz à tona alegações de suborno entre as autoridades.
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Há uma rede de intermediários, da qual não existem praticamente informações, que ajuda palestinianos da Faixa de Gaza a atravessar a passagem de Rafah e a chegar em segurança a território egípcio. De acordo com o jornal "El País", os responsáveis cedem autorizações de entrada no Egito, mas com uma condição: os interessados têm de pagar entre quatro mil e onze mil dólares (cerca de 3689 e 10 146 euros).
Apesar de a rede desconhecida já atuar há vários anos na fronteira que separa o enclave do Egito, asseguram meios de comunicação locais e organizações de direitos humanos, os meandros das operações vieram à tona na sequência da escalada do conflito israelo-palestiniano, que se agravou com o ataque do Hamas a Israel.
Na altura em que surgiram as listas com os nomes dos cidadãos egípcios autorizados a sair da Faixa de Gaza através da passagem de Rafah, foi detetada a presença de nomes de membros de famílias ricas do território, que não tinham outra nacionalidade além da palestiniana. Estas pessoas representam um grupo de cidadãos que, tendo em conta o que foi acordado pelas autoridades, não tinha direito a abandonar o enclave, denunciou um palestiniano não identificado ao jornal espanhol.
"Nós conhecíamos [as famílias] bem, então perguntamo-nos como saíram. Descobrimos que a fronteira estava aberta a qualquer pessoa que tivesse dinheiro", explicou ao "El País" o jovem que, depois de ter conhecimento do que se estava a passar, também conseguiu arranjar 10 mil dólares para fugir do enclave com a família. O palestiniano, que atualmente está a viver num país asiático, recordou ainda que, apenas 48 horas após ter feito a transferência do montante, recebeu um telefonema a informar que já podia dirigir-se até à fronteira. No entanto, a autorização para migrar para território egípcio não o protegeu de ser amplamente investigado pelas autoridades locais.
Face ao desespero de se livrarem do banho de sangue que se tem sucedido na Faixa de Gaza, muitos palestinianos têm recorrido a plataformas de angariação de fundos para tentarem amealhar a quantia que lhes poderá dar acesso a uma vida segura. Segundo o diário espanhol, existem cerca de cem campanhas destas em curso.
Suspeitas de suborno
Uma investigação independente conjunta do jornal egípcio "Saheeh Masr" e da rede global de jornalistas do Organized Crime and Corruption Whistleblower Project (OCCRP), que teve por base dezenas de entrevistas, aponta que a facilidade com que são disponibilizadas autorizações para entrar no país depois da entrega de quantias tão avultadas origina suspeitas de que, por trás das operações, pode existir um sistema de suborno.
Num comunicado lançado no fim de janeiro, o diretor do Serviço de Informação do Estado do Egito, Diaa Rashwan, classificou as suspeitas de suborno como "acusações falsas" e apelou aos cidadãos palestinianos para informarem as autoridades competentes se surgir algum pedido de cobrança de taxas ilegais.