Relatório indica que Governo britânico financia organização homofóbica do Uganda
O Governo do Reino Unido está a ajudar a financiar o trabalho de uma organização religiosa homofóbica do Uganda, cujos líderes apoiam a proposta de lei que criminaliza com pena de morte a homossexualidade, indica um relatório do Institute for Journalism and Social Change (IJSC).
Corpo do artigo
Numa análise aos dados fornecidos pela International Aid Transparency Initiative (IATI) - uma instituição que escrutina a transparência da aplicação de fundos -, o IJSC encontrou um número "impressionante" de conexões entre organizações anti-LGBTQ+ no Uganda e doações internacionais, nas quais se inclui o Reino Unido, noticia o jornal britânico "The Guardian".
De acordo com o relatório, o Conselho Inter-Religioso de Uganda (IRCU) é um destinatário direto do dinheiro proveniente do Reino Unido, canalizado no seguimento de um programa que visa cumprir a "ambição" do Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico de alcançar uma sociedade mais aberta no país da África Oriental.
Apesar de o parlamento do Uganda ter aprovado, por larga maioria, um projeto de lei contra a homossexualidade que prevê a pena de morte em alguns casos, e do ministro do Desenvolvimento do Reino Unido, Andrew Mitchell, ter referido que o país estava "profundamente desapontado" com a decisão, os fundos continuam a fluir para o IRCU.
Segundo dados da Tutela, a organização ugandesa já recebeu cerca de 152 mil euros provenientes do programa "Uganda - Open Society", que teve início em junho de 2021 e irá estender-se até março de 2024.
Uma das autoras do relatório do IJSC, Claire Provost, alertou que "a pesquisa revelou um número impressionante de conexões entre organizações religiosas anti-LGBT do Uganda e doadores de ajuda internacional", apelando às entidades doadoras para que olhem "mais amplamente para o financiamento em todos os países, de modo a que essas práticas não prejudiquem os direitos humanos".
Em fevereiro deste ano, membros do IRCU assinaram uma declaração que expressava "grande preocupação" com "a crescente disseminação da homossexualidade" na país e o efeito da "agenda LGBTQ" no bem-estar das crianças.
Duas semanas depois, um projeto de lei que quer agravar as penas a homossexuais foi apresentado ao Parlamento e, no mês passado, a 21 de março, a legislação foi aprovada com 387 a votar a favor.
A proposta de lei, que foi classificada como "uma das piores do género no mundo" pelo Alto Comissário para os Direitos Humanos da ONU, Volker Turk , impõe penas de morte e prisão perpétua para homossexuais e 20 anos de prisão por "recrutamento, promoção e financiamento" de atividades entre pessoas do mesmo sexo.
O presidente do Uganda, Yoweri Museveni, recusou, na semana passada, o controverso projeto de lei contra a homossexualidade, solicitando que a legislação fosse emendada de modo a que os deputados a tornem ainda mais dura.