O chefe dos negociadores da Renamo, principal partido de oposição em Moçambique, nas conversações com o Governo disse hoje, após a assinatura de um cessar-fogo, que o país "entrou numa nova era" e que "valeu a pena o sacrifício".
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"Hoje Moçambique entra numa nova era, num novo modelo de democracia efetiva, onde as eleições podem ser transparentes e haja liberdade e justiça", declarou Saimone Macuiana, chefe da delegação da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) no fim da 74.ª ronda negocial para o fim das hostilidades.
"Estamos a criar uma verdadeira República de Moçambique para todos os moçambicanos, e não uma monarquia para algumas famílias, estamos a criar um verdadeiro Estado de Direito para todos, em que cada um se sinta protegido, respeitado e dignificado", declarou o líder da representação do partido de oposição, após mais de cinco horas de negociações para fechar o acordo de cessar-fogo.
Segundo Macuiana, "valeu a pena o sacrifício, o sofrimento e entrega de homens e mulheres, jovens adultos", que foram necessários, alegou, para que "os moçambicanos tivessem a sua dignidade e liberdade de escolha".
"Não queremos dizer que a guerra é boa, que nos alegramos com o sofrimento do povo, mas mais uma vez quero dizer que, quando for necessário o sacrifício, que consentimos para que chegássemos à conclusão de hoje, para o bem de 24 milhões de moçambicanos, o nosso propósito é aceitar o sacrifício de viver nas matas, sofrendo humilhações, insultos, injúrias e até ser mortos", disse ainda o chefe da delegação da Renamo.
O Governo moçambicano e a Renamo assinaram hoje em Maputo, ao fim de mais de um ano de negociações, um cessar-fogo, com efeitos imediatos em todo o território, e a base de entendimento para o fim das hostilidades no país.
Foram assinados o memorando de entendimento, os mecanismos de garantia e os termos de referência da equipa militar de observação do cessar de hostilidades.
O acordo foi assinado pelo chefe da delegação governamental e ministro da Agricultura, José Pacheco, e pelo líder dos negociadores da Renamo, Saimone Macuiana, que depois se abraçaram perante os jornalistas, representantes de ambas as partes, numa cerimónia transmitida em direto pelas principais televisões do país.
Macuiana disse "este acordo significa também que a partir deste momento Moçambique começa um novo caminho em que as Forças de Defesa deixam de ser de um partido político, como acontecia até este momento".
"As forças armadas de Moçambique, a Polícia da República de Moçambique e o serviço de segurança de informação do Estado passam a servir o estado moçambicano e são proibidos de participar em atos partidários", revelou, insistindo que este "é o fim de uma jornada difícil mas necessária".
O chefe dos negociadores da Renamo referiu-se ainda ao líder da Renamo, Afonso Dhlakama, que permanece em parte incerta, algures na Gorongosa, no centro do país, desde que o seu acampamento foi atacado pelo exército em outubro do ano passado.
"Não poderíamos terminar sem saudar o presidente da Renamo, que escapou à morte no dia 21 de outubro de 2013, na sua residência em Satungira, província de Sofala. Valeu o sacrifício. Com a sua persistência o povo moçambicano ganhou a paz, a liberdade, a democracia e mais uma vez mostrou ao mundo a sua capacidade de entre si resolver os problemas nacionais", observou Macuiana.
No último ano e meio, os confrontos entre exército e o braço armado da oposição provocaram um número indeterminado de mortos e feridos na região da Gorongosa, província de Sofala, bem como nas emboscadas da Renamo a colunas de veículos escoltadas pelos militares num troço de cem quilómetros da única estrada que liga o sul e o centro do país.
Dhlakama disse que só abandonará o seu esconderijo após a declaração de um cessar-fogo, o que se verificou hoje, tendo-se recusado a aceder ao pedido do Presidente da República, Armando Guebuza, de assinar o entendimento ao mais alto nível em Maputo.
Moçambique tem previstas eleições gerais (presidenciais, legislativas e assembleias provinciais) para 15 de outubro.