Os eleitores romenos votam no próximo domingo na segunda volta das eleições presidenciais, num ambiente de polarização, com dois candidatos antagónicos, o nacionalista George Simion, vencedor da primeira volta, e o pró-europeu Nicusor Dan.
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A disputa antecipa-se renhida, com as sondagens conhecidas na última semana de campanha a mostrarem um empate técnico, embora duas indiquem uma ligeira vantagem para Simion, enquanto uma outra pesquisa, revelada na quinta-feira, dá a vitória a Dan.
Após uma polémica primeira volta, realizada em 4 de maio, que foi uma repetição da eleição anulada em dezembro, os romenos estão confrontados com dois candidatos que se afirmam “antirregime”, mas que apresentam propostas políticas opostas para o cargo de presidente da República, responsável pela política externa e de defesa.
George Simion, líder da Aliança para a União dos Romenos (extrema-direita, segunda força no parlamento) venceu a primeira volta, com 40,96% dos votos (3.862.761 votos), bem acima dos 30% que as sondagens lhe atribuíam.
O candidato nacionalista, 38 anos, teve 14% dos votos nas eleições de novembro, depois anuladas pelo Tribunal Constitucional por suspeita de interferência russa, mas quase triplicou os resultados na repetição da votação.
Simion beneficiou do apoio de toda a extrema-direita, ao assumir o lugar do vencedor-surpresa da eleição de novembro, Calin Georgescu, impedido de se candidatar em maio e que as autoridades romenas dizem ter sido beneficiado nas redes sociais por influência russa.
Durante a campanha, Simion comprometeu-se a colocar o pró-russo Georgescu no lugar de primeiro-ministro e denunciou a anulação das eleições de novembro como “um golpe”.
Admirador do presidente norte-americano, Donald Trump, Simion tem como ambição reforçar os laços com os Estados Unidos e agita frequentemente argumentos de fraudes eleitorais, como o líder republicano norte-americano.
Crítico dos “burocratas” de Bruxelas, quer participar numa aliança soberanista no seio da União Europeia (UE), ao lado da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni (direita radical), ou dos populistas eslovaco Robert Fico e húngaro Viktor Orbán.
Antigo ‘hooligan’, recusa ser conotado com a extrema-direita e identifica-se como “soberanista”: defende uma “Grande Roménia” e reclama territórios das vizinhas Ucrânia e Bulgária. Está impedido de entrar na Ucrânia e na Moldova, onde foi declarado ‘persona non grata’.
Apesar de procurar distanciar-se do Kremlin – qualificou o presidente russo, Vladimir Putin, de “criminoso de guerra” – Simion quer reduzir a ajuda aos refugiados ucranianos e opõe-se a qualquer apoio militar. Quanto à NATO, que tem na Roménia uma importante missão, elogia o papel defensivo, mas defende maior poder dos Estados Unidos na Aliança Atlântica.
Simion está a ser investigado pelo Ministério Público por incitar à violência, depois de ter dito que queria “esfolar vivos na praça pública” os responsáveis pelo afastamento de Calin Georgescu.
No polo oposto está o seu rival nesta segunda volta: aos 55 anos, Nicusor Dan, presidente da câmara de Bucareste, decidiu, após o “choque” de novembro, avançar para as presidenciais, afirmando-se no campo pró-europeu.
Destacou-se na política como ativista contra o desenvolvimento urbano ilegal, criticando os “tubarões” do imobiliário.
Eleito para dirigir a capital da Roménia em 2020 e atualmente no segundo mandato, Dan orgulha-se de ter modernizado o sistema de aquecimento e as instalações desportivas, salvando a cidade da falência.
Com o slogan “Uma Roménia honesta", Nicusor Dan quer ser o homem da “mudança”, afirmando-se contra a ascensão da extrema-direita – que conseguiu 40% do parlamento nas legislativas de dezembro –, que se deveu, em grande parte, à rejeição de uma classe política “corrupta” e “arrogante”, que estava no poder desde o fim do regime comunista, em 1989.
Defende o compromisso com a UE, a NATO e a manutenção do apoio à Ucrânia.
Na primeira volta, obteve 20,99% dos votos (1.979.767 votos), pouco acima do candidato apoiado pela coligação governamental (sociais-democratas, liberais e minoria húngara), Crin Antonescu (20,07%, 1.829.930 votos).
Para derrotar Simion, Nicusor Dan precisa de contar com os votos dos abstencionistas da primeira volta: estimativas apontam que seria necessária uma participação entre 65% a 75% para lhe garantir a vitória – na primeira volta, 53% dos eleitores foram às urnas.
A derrota de Antonescu na primeira volta teve impacto na coligação no poder: o primeiro-ministro, o social-democrata Marcel Ciolacu, anunciou a sua demissão da chefia do Governo e a saída do partido da coligação.
A crise política refletiu-se também na economia, com a moeda romena, o leu, a cair nos dias seguintes à primeira volta, e o euro a ultrapassar os cinco lei pela primeira vez.
O processo eleitoral romeno está a causar apreensão em Bruxelas, perante a possibilidade de ser eleito mais um líder eurocético.
No sábado passado, dezenas de milhares de romenos manifestaram-se em todo o país para pedir que a Roménia se mantenha fiel à sua “bússola europeia”.