Milhares encheram os arredores do Palácio de St. James para acompanhar, in loco, a proclamação de Carlos III como monarca.
Corpo do artigo
"Rei morto, rei posto" não será o mais respeitoso dos ditados, mas é honesto. Em Londres, ainda se chora pela rainha-avó que morreu, ainda se levam flores às grades do palácio que era sua morada e quem anda na rua quase vê mais retratos de Isabel II do que placas de trânsito. Mas os tributos à mais longeva monarca da história do Reino Unido não acanham os britânicos na hora de, pela primeira vez em tantas décadas, gritarem "God save the king" sem timidez.
"Viemos mostrar respeito à rainha e ver o novo rei ser coroado. Acho que vai estar à altura do legado da mãe e continuá-lo"
A prontidão a vestir a camisola do novo rei pode até ser sintoma do enraizamento dos protocolos da monarquia britânica na sociedade, mas o sentimento geral entre os milhares de pessoas que tentam apanhar um vislumbre do sucessor durante a cerimónia de proclamação é de confiança no novo reinado.
É quase uma da tarde e não cabe mais um corpo nas ruas que circundam o Palácio de St. James. Jornalistas de todo o mundo apontam as câmaras para as varandas do edifício, de onde a sinfonia dos trompetes e o cântico que invoca a proteção divina ao monarca prenunciam que já há rei proclamado.
Clamores pelo regente
Em redor, milhares assistem à sumptuosa celebração, símbolo de um Reino Unido moderno mas de tradições seculares, e clamam, eufóricos, pelo novo regente. Não há um milímetro de passeio vazio e, ainda assim, não há caos: à esquerda, duas polícias mulheres mantêm a ordem sem ordenar, pedindo aos mirones do rei, em tom cerimonial, para que não passem a linha que definiram (às vezes acontece, porque começa um desfile de carrões com o símbolo de uma coroa no para-brisas e todos querem ver se algum deles leva o monarca).
Alto! Aplausos e gritos festivos começam do lado direito. Vem aí um imponente e pomposo Rolls Royce preto. "It"s the king! It"s the king", gritam. Mas é falso alarme. "Not the king, not the king!", riem-se logo depois.
Não tanto como se ri Sam, já mais tarde. Segue com as filhas, todas contentes. São de uma cidade do Norte de Inglaterra, a três horas de comboio da capital, e chegaram na sexta-feira para prestar tributo a Isabel II e ver o novo rei. Só não contavam com um aceno real a partir de um carro bem mais discreto do que o do famoso fabricante. "Vimo-lo e ele disse-nos adeus! Temos isso em vídeo", conta, efusiva, enquanto mostra o momento no telemóvel. "Vai sair-se lindamente, tenho a certeza. Gosto dele. E também gosto do William e da Kate".
"Quisemos vir ver como é que a população do Reino Unido reage a tudo isto e viver a experiência ao vivo"
Leslie e Emmy, mãe e filha, sentam-se na beira de um passeio com dois ramos de rosas nos braços e um terceiro no regaço de uma delas. Vão daqui a nada depositá-los àquela que foi a residência oficial da rainha e onde jazem, desde quinta-feira, milhares de flores e cartas de amor que nunca chegarão à amada.
"O rei vai ter umas grandes botas para calçar", diz a mais nova. "Mas estamos cá a apoiá-lo. Se Deus não o salvar, salvamos nós".