As temperaturas recorde e a seca prolongada na Grécia expuseram uma aldeia submersa na principal albufeira de Atenas pela primeira vez em 30 anos.
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A aldeia de Kallio ficou submersa no final da década de 1970, quando a barragem de Mornos foi construída a 200 quilómetros a oeste da capital, o lago artificial alimentado pelos rios Mornos e Evinos.
Com os níveis dos lagos a descerem 30% nos últimos meses, de acordo com a operadora estatal de água EYDAP, as ruínas de uma escola e de casas reapareceram. “O nível do Lago Mornos desceu 40 metros”, disse Yorgos Iosifidis, um reformado de 60 anos que teve de abandonar a sua casa quando era jovem, juntamente com outros aldeões, quando a área ficou inundada. "Vê-se o primeiro andar que resta da casa de dois andares do meu sogro e ao lado pode ver-se o que resta da casa dos meus primos", disse Iosifidis, que agora vive no cimo da colina, em declarações à AFP.
A seca agravou-se este ano no país mediterrânico que está bem habituado às ondas de calor do verão. Após o inverno mais ameno de que há registo, a Grécia teve o julho mais quente de que há registo, de acordo com os dados meteorológicos preliminares do observatório nacional, algo que ocorreu depois de temperaturas recorde semelhantes em junho.
Quase 80 casas em Kallio, além da igreja e da escola, foram “sacrificadas” para abastecer Atenas de água, disse o presidente da aldeia de Kallio, Apostolis Gerodimos, à agência estatal ANA.
Esta é a segunda vez que Kallio reaparece, depois de outro período de seca no início da década de 1990, disse Iosifidis. “Se não chover em breve, o nível vai baixar ainda mais e o problema será mais grave do que era então”, disse.
As autoridades gregas apelaram aos 3,7 milhões de habitantes da Ática, a região que rodeia Atenas e onde vive um terço da população grega, para não desperdiçarem água. O EYDAP também aproveitou reservatórios adicionais perto da capital. A empresa disse que as reservas da Ática caíram de 1,1 mil milhões de metros cúbicos em setembro de 2022 para 950 milhões um ano depois. Este ano, prevê-se que desçam para 700 milhões de metros cúbicos, o suficiente para durar cerca de três anos.
Numa visita à vizinha Tessália, na segunda-feira, para discutir os trabalhos de reconstrução após as inundações destrutivas do ano passado, o primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis disse que a Grécia tinha de melhorar a sua gestão da água. "Não nos podemos dar ao luxo de desperdiçar água. Numa altura em que sabemos com certeza que teremos menos água, devemos proteger os recursos hídricos de uma forma mais metódica do que temos feito até agora", disse Mitsotakis.
A Grécia utiliza 85% da sua água para irrigação e precisa de construir mais barragens, disse o primeiro-ministro.