Um artista francês treinou dois roedores a tirarem autorretratos, num projeto destinado a servir de reflexão sobre o poder aditivo das redes sociais.
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A experiência académica era ambiciosa: juntar a paixão pela fotografia a dois ratinhos e a uma gaiola engenhosa. O resultado? Divertidas selfies tiradas pelos roedores numa metáfora associada ao efeito viciante das redes sociais.
Durante uma pós-graduação, em 2021, o artista francês Augustin Lignier comprou dois ratos numa loja de animais e decidiu construir-lhes uma gaiola especial, contou à CNN. Através de um mecanismo que lhes dava açúcar sempre que pressionassem o botão da câmara fotográfica lá instalada, Lignier treinou-os para tirarem fotos a si próprios. Durante o processo, explorou as noções de recompensa e os comportamento viciantes associados à utilização das redes sociais.
Os autorretratos conseguidos, explicou, representam "uma boa forma de atrair o olhar", funcionando como uma forma lúdica de explorar temas como a redução da capacidade de atenção e o impacto dos algoritmos destas plataformas. "Quando se tem esse poder, mesmo tratando-se de dois ratos e não de milhares de milhões de pessoas, sente-se que se pode manipular tudo", notou, reconhecendo que essa sensação "é muito estranha".
Para contruir a gaiola, o artista inspirou-se na chamada "Caixa de Skinner", inventada pelo psicólogo americano B.F. Skinner para estudar o comportamento animal a realizar tarefas complexas.
Quando Augustin e Arthur, nomes escolhidos para os ratinhos, começaram a explorar a sua nova "casa", foram tocando aleatoriamente no botão que lhes dava açúcar. No entanto, nos dias seguintes, começaram a fazê-lo de forma intencional e, nessa altura, Lignier transferiu-os para uma gaiola normal. Apesar do botão já não libertar nada doce, os roedores continuavam a associá-lo a esse prazer, pressionando-o mais do que uma vez por minuto.
O resultado foi um conjunto de divertidas selfies, que espelham o efeito da dopamina libertada no cérebro dos animais.