Uma lesão cerebral fazia com que um homem sofresse de convulsões sempre que fazia Sudoku. Um estudo do caso agora publicado, conclui que os episódios aconteciam sempre que este usava uma perspetiva espacial.
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O caso do jovem, publicado hoje na "JAMA Neurology", representa mais um avanço no estudo do cérebro. Sempre que este procurava resolver um problema de Sudoku, acabava por ter uma convulsão, sem razão aparente. "Quando faço Sudoku, concentro-me num ponto em concreto, sem descartar as opções horizontais e verticais. Quando faço isso, começo a sentir um tremor, sofro de cãibras e a minha mão [esquerda] move-se sem controlo. Esta situação tende a evoluir e a terminar num ataque, a menos que feche os olhos", explica o paciente.
Na publicação da revista norte-americana é explicada a origem do distúrbio. Quando tinha 25 anos, sofreu de um acidente quando esquiava nos Alpes austríacos. Esteve enterrado e sem oxigénio durante 15 minutos, até que um amigo o resgatou. Esse episódio desencadeou contrações involuntárias dos músculos daí para a frente.
Porém, quando resolve o jogo, a sua situação agrava-se. "A minha mão esquerda converte-se no epicentro do ataque", esclarece o paciente. Os surtos, que se assemelham aos provocados pela epilepsia, levaram os médicos a realizar uma série de exames de forma a perceber que área do cérebro era afetada. Um dos exames foi filmado e o vídeo foi disponibilizado.
A explicação dada por um médico da Universidade de Munique assenta na forma como o paciente olha para o jogo. Por tomar uma perspetiva espacial, "liga" a parte centro-parietal do hemisfério direito do cérebro, local onde se encontrava a lesão, resultado do episódio de hipoxia (baixa concentração de oxigénio) na altura do acidente.
O problema do jovem regressa sempre que este utiliza a imaginação espacial. Mas agora já sabe que é fácil de resolver: "Fecho os olhos durante um segundo ou dois e o ataque acaba".
Já não realiza Sudokus há cinco anos e durante esse período conseguiu também evitar novos ataques. "Por sorte, [o ataque] produz-se apenas em situações muito específicas. Conduzir um carro não representa qualquer problema. A minha vida não é muito afetada pelas convulsões-sudoku", diz. O paciente chega mesmo a brincar com a situação: "Ao trabalhar com tabelas de Excel ou a ler partituras de piano acontece como com o Sudoku mas, como sou jornalista, não uso muito o Excel e ao piano improviso".