Tem 97 anos, sobreviveu à Segunda Guerra e recusa sair de casa por amor ao país: "Parem com isto!"
Num momento tão negro em que a esperança em dias melhores parece uma utopia, há quem faça questão de se agarrar a ela para permanecer no país natal, a Ucrânia, mesmo correndo risco de vida.
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Leonid Stanislavskyi é uma dessas pessoas. O ucraniano tem 97 anos, é detentor de um recorde do Guinness como o tenista mais velho do mundo e, tal como muitos ucranianos, recusa deixar o país por amor à pátria. "Ninguém me tira daqui", garantiu em declarações à Reuters.
Leonid trabalhava como engenheiro na construção dos aviões soviéticos que combatiam os nazis e conseguiu sobreviver à Segunda Guerra Mundial. A paixão pelo ténis surgiu tarde, com 30 anos, a mesma altura em que também começou a gostar de praticar natação, mas isso não o impediu de quebrar recordes de longevidade - sim, ainda joga ténis com 97 anos - e até de conhecer Nadal, com quem disputou um ponto depois de realizar o sonho de academia do tenista espanhol.
Só que agora, em vez de tentar conhecer Federer, outro desejo de vida do experiente tenista, e de estar a treinar e a disputar Europeus e Mundiais da sua categoria , com a sua t-shirt amarela e calções azuis, está fechado na sua casa em Kharkiv, uma das cidades mais fustigadas pelos militares russos. Mas por opção própria. Por amor ao país. À pátria. E com a esperança de que um dia poderá voltar a jogar ténis.
"Nunca pensei que tivesse de viver mais uma vez isto, uma guerra ainda mais assustadora em que pessoas dos dois lados estão a morrer. Há mães a perderem as crianças, há mulheres que perderam os filhos e os maridos. O que é isto? No século XXI não pode haver guerra. É preciso travar esta guerra, têm de chegar a um acordo.
"A guerra começou no dia 24 e, desde então, praticamente não saí de casa. Vou ficando em casa... Tenho mantimentos, o frigorífico está cheio. Estou sentado em casa, sem poder fazer nada a não ser ver o que se passa... A minha filha Tanya está na Polónia e quer levar-me para lá mas decidi que ia ficar aqui. Como ouço mal consigo dormir à noite, não ouço nada. Ainda na última noite houve outra vez bombardeamentos e de manhã ouviram-se as sirenes", vincou.
Mesmo a correr risco de vida e a assistir uma vez mais a um conflito, o tenista mais velho do mundo, que quando podia treinava três vezes por semana, ainda mantém a esperança que consiga marcar presença nos próximos Mundiais, que se realizam em abril na Flórida, EUA. E garante: não tem medo de nada.
"O ténis é a minha vida, o meu destino. Comecei a jogar ténis a nível competitivo quando tinha 90 anos. Já joguei no estrangeiro, já estive em Mundiais e Europeus. Não tenho medo de nada... Só espero que esta guerra chegue ao fim para poder voltar a jogar. Sei que se tivesse ido para a Polónia poderia estar lá a jogar mas preferi ficar em casa enquanto a guerra chega ao fim", vincou.