Apreensão entre os dois países tem crescido e é impulsionada por questões geopolíticas. Ocidente tem voz ativa e promete marcar posição nas negociações sobre o futuro.
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O medo constante de que a Rússia possa atacar a Ucrânia atravessou fronteiras e fez com que o Ocidente se mostrasse solidário com Kiev. Os Estados Unidos e a Europa têm movido esforços para tentar proteger aquele país de Leste em ações que passam por conversas diplomáticas com Moscovo. A primeira negociação ocorreu na segunda-feira, entre Washington e Moscovo, e esta quarta-feira há mais tentativa de pacificação, desta vez pela mão da NATO.
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Mas de que forma progrediu a tensão entre a Rússia e Ucrânia? O clima de apreensão entre os dois países tem vindo a aumentar desde 2014, altura em que Moscovo anexou a região da Crimeia. Um ano depois, ambos os estados alcançaram um cessar-fogo, mas a serenidade não tem pairado na fronteira, já que mais de 13 mil soldados e civis morreram nos últimos anos.
A posição do regime de Vladimir Putin tem endurecido à medida que o presidente tem a vindo a reiterar que a Ucrânia é fundamentalmente uma parte da Rússia, tanto a nível histórico como cultural.
A preocupação de uma possível invasão surgiu no final de outubro, altura em que Kiev usou um drone armado para atacar os separatistas pró-Moscovo. A Rússia classificou o ataque como um ato desestabilizador que violou o cessar-fogo e aumentou ainda mais a militarização que, de acordo com dados do Governo ucraniano, se traduz na presença de mais de 100 mil soldados na fronteira.
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Afirmar o poder sobre o país vizinho é um objetivo que Putin quer alcançar com vista a restaurar a supremacia da Rússia como ator mundial. Durante anos, recorda o jornal norte-americano "The New York Times" (NYT), o líder do Kremlin mostrou-se frustrado com a expansão da Aliança Atlântica. Atualmente, ao criar uma nova crise, Putin ameaça complicar a agenda de Joe Biden, presidente dos EUA, colocando a tensão no Leste da Europa como primordial em Washington.
"Pela primeira vez em 30 anos, os Estados Unidos concordaram em discutir questões que eram impossíveis de discutir até há um ano", reflete a analista política Tatiana Stanovaya, em declarações ao NYT. Agora que o presidente russo tem americanos na mesa de negociações, está a eclodir uma estratégia clássica em que ele próprio já mostrou ser um veterano: deixar o Mundo a tentar adivinhar qual será o próximo passo, o que faz com que muitos analistas consideram que a postura de Putin se trata apenas de "bluff" político.
Na Ucrânia, a postura agressiva de Moscovo também já teve repercussões, inflamando ainda mais as crenças nacionalistas e alimentando a criação de milícias que se preparam fervorosamente para uma possível invasão. Vários civis já se juntaram ao exército e têm estado em treino permanente para que possam estar preparados para um ataque russo.
Ajuda externa
O apoio da NATO, por sua vez, deverá traduzir-se em sanções políticas e económicas, caso a Rússia opte por invadir a Ucrânia. Joe Biden já deixou claro que a Aliança Atlântica não irá responder com uma intervenção militar, uma vez que Kiev não é membro integrante da organização. Ainda assim, este é também um momento importante para os aliados do Ocidente, já que as resoluções da NATO neste contexto vão ajudar a moldar o peso geopolítico da aliança nos próximos anos.
Para a Europa, enquanto comunidade, o ambiente de tensão crescente põe em causa a atmosfera de paz alcançada depois da Segunda Guerra Mundial. A organização perdeu um trunfo e já não tem tanto a dizer no âmbito das negociações. Com a saída da chanceler Angela Merkel, que desenvolveu uma boa relação com Putin, a Europa perdeu um interlocutor inestimável com Moscovo. O sucessor, Olaf Scholz, que tomou posse em dezembro, é menos conhecido nas relações externas, o que pode dificultar a comunicação. Para piorar, o alemão é o principal rosto de uma coligação governamental que se carateriza por ser mais crítica em relação à Rússia. Mas de acordo com vários analistas internacionais, a Europa deve manter-se atenta e reticente, já que tem uma forte dependência energética do país liderado por Vladimir Putin.
Na reunião entre os EUA e Moscovo, que ocorreu na segunda-feira, o Kremlin voltou a frisar, pela voz do vice-ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Riabkov, que não tem a intenção de fazer um ataque à Ucrânia, mas Putin continua sem desmentir a possibilidade.
Numa altura em que a Rússia ainda não aceitou fazer recuar as tropas junto à fronteira, o encontro de hoje, que ocorre em Bruxelas, representa mais uma tentativa de manter o diálogo aberto. Para já, informa o jornal norte-americano "The Washington Post", há pouco otimismo de ambos os lados de que as negociações possam vir a resolver o impasse do Leste Europeu.