Moscovo permanece sem retirar as tropas da fronteira com Kiev. NATO teme um conflito que pode pôr a segurança do Velho Continente em causa.
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A NATO e a Rússia reuniram-se ontem, em Bruxelas, em mais uma tentativa de encontrar soluções para a tensão na fronteira entre Moscovo e Kiev. Jens Stoltenberg, secretário-geral da organização, admitiu existir um "sério risco de um novo conflito armado na Europa", alertando o Kremlin que poderá ser alvo de consequências severas em caso de ataque.
O representante frisou que a aliança "está de olhos bem abertos", avisando que uma retaliação poderá passar por sanções económicas e políticas, e admitido que apesar das diferenças, há margem para diálogo.
Stoltenberg, porém, reafirmou que ter uma postura aberta não é sinónimo de aceitação das imposições. "Não estamos dispostos a comprometer os princípios da segurança europeia", adiantou o secretário-geral.
Já Wendy Sherman, vice-secretária de Estado dos EUA, disse à CNN que, mais uma vez, os russos não aceitaram diminuir o número de tropas nas fronteiras, sublinhando ainda que há uma falta de compromisso por parte do Kremlin.
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A escalada da militarização na fronteira parece não ter fim à vista, e nem as negociações conseguem pôr um ponto final a este ciclo. Na terça-feira, Moscovo admitiu que vai continuar a realizar exercícios militares no território russo, incluindo na fronteira com a Kiev, dissociando as manobras das negociações em curso. "Não há qualquer ligação entre estas coisas. Estamos a falar do nosso território", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
Afirmação de poder
Além de não dar tréguas, Moscovo tem feito várias exigências ao Ocidente. O regime de Putin reivindica a assinatura de tratados que proíbam qualquer alargamento da aliança ocidental e o fim das manobras militares perto das fronteiras.
Nos últimos meses, a Ucrânia e a NATO denunciaram a concentração de um elevado número de tropas russas perto da fronteira ucraniana, considerando tratar-se de um sinal de uma possível invasão. Stoltenberg deixou claro que a Ucrânia não é membro da Aliança Atlântica, pelo que os aliados apenas lhe podem dar apoio político e não militar, uma questão que já tinha sido adiantada por Joe Biden, presidente dos EUA.
A apreensão entre a Rússia e Ucrânia tem vindo a aumentar desde 2014, altura em que Moscovo anexou a região da Crimeia. Afirmar o poder sobre o país vizinho é um dos objetivos que Putin quer alcançar com vista a restaurar o poder da Rússia como ator mundial. Durante anos, recorda o jornal "The New York Times", o líder mostrou-se frustrado com a expansão da NATO. Agora, "pela primeira vez em 30 anos, os EUA concordaram em discutir questões que eram impossíveis de discutir até há um ano", diz a analista política Tatiana Stanovaya, em declarações ao jornal americano.
Clima de medo
Na Ucrânia, a postura agressiva de Moscovo também já teve repercussões, inflamando ainda mais as crenças nacionalistas e alimentando a criação de milícias que se preparam fervorosamente para uma possível invasão. Vários civis também têm estado em treinos intensos para puderem dar resposta.
Mais apoios
Os senadores do Partido Democrata dos EUA também já se mostraram solidários e informaram que, em caso de invasão russa, Moscovo irá ser alvo de sanções relativas à banca, acrescentando ainda disponibilidade para ceder ajudas financeiras a Kiev.
Soldado morto
A Ucrânia informou ontem que um dos soldados que se encontra na fronteira com a Rússia foi morto numa disputa contra separatistas pró-Moscovo. O acidente ocorreu na terça-feira, precisamente na véspera das negociações entre a Aliança Atlântica e o Kremlin. De acordo com as autoridades de Kiev, os separatistas russos atacaram os grupos militares ucranianos que se encontram no leste do país.
O confronto foi acompanhado por armamento pesado, sendo que os soldados do regime de Putin usaram armas e metralhadoras de alto calibre. "Um soldado das Forças Conjuntas foi fatalmente ferido", detalhou o exército ucraniano em comunicado, citado pela AFP, acrescentando que as tropas do país responderam ao ataque. Cerca de 13 mil soldados e civis morreram nos últimos anos devido a confrontos na fronteira.