Durante cinco meses, a BBC investigou 30 contas de TikTok com transmissões ao vivo a partir de campos de refugiados na Síria e concluiu que mais de metade do valor dos chamados presentes digitais não chega às famílias.
Corpo do artigo
Numa altura em que cada vez mais famílias sírias estão a usar a funcionalidade do TikTok que permite receber doações dos utilizadores, a plataforma está a ser acusada de se apropriar de 70% do dinheiro angariado.
A investigação foi desenvolvida pela BBC, que acusa inclusivamente a rede social de ter "intermediários" em campos de refugiados no noroeste sírio a fornecer telefones e equipamentos para as crianças poderem lançar os apelos. Esses "intermediários" apresentam-se como funcionários de agências afiliadas ao TikTok na China e no Médio Oriente, responsáveis pela estratégia de recrutamento de "livestreamers".
Mona Ali Al-Karim e as seis filhas - uma das famílias acompanhadas - todos os dias se sentam no chão da sua tenda, durante horas, a repetir as poucas palavras que sabem dizer em inglês: "Por favor deixem like, partilhem e doem". O marido de Mona foi morto num ataque aéreo e a refugiada não prescinde de fazer lives para arrecadar a quantia necessária para a cirurgia da filha Sharifa, que é cega.
Ao longo de cinco meses, a BBC decidiu, assim, acompanhar 30 contas de TikTok com transmissões ao vivo a partir de campos de refugiados sírios e analisar os presentes digitais doados pelos utilizadores. No final, confrontou as quantias, concluindo que o dinheiro recebido pelas famílias era apenas uma pequena parte.
Além disso, fez o teste: enviou presentes no valor de 106 dólares para um repórter que tinha contactado um "intermediário" a dar conta de que estava a viver num campo sírio. No entanto, no final da transmissão, o saldo da conta do jornalista continha apenas 33 dólares, o que significa que a rede social arrecadou 69% do valor.
Na sequência da denúncia da BBC, o TikTok garantiu estar "profundamente preocupado" e empenhado em tomar "medidas rápidas e rigorosas" contra este tipo de transmissões. "Este tipo de conteúdo não é permitido na nossa plataforma e estamos a reforçar ainda mais as nossas políticas globais contra a exploração e a mendicidade", afirmou.