O Presidente da Somália, Sharif Sheik Ahmed, e o primeiro-ministro, Abdiweli Mohamed Ali, anunciaram este sábado terem derrotado os radicais islâmicos "shebab", ligados à Al-Qaida, tendo-os obrigado a retirar-se da capital, Mogadíscio.
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"É o início da paz e da estabilidade na Somália", sublinhou o chefe de Estado somali, considerando que a retirada dos rebeldes da capital do país é "uma vitória nacional".
O anúncio do Presidente e do primeiro-ministro ocorre algumas horas depois de o porta-voz dos "shebab" ter informado que os seus efectivos deixaram a frente de Mogadíscio, embora assegurando que isso faz parte da sua "mudança na estratégia de guerra".
Por sua vez, o chefe de Estado garantiu este sábado em conferência de imprensa no palácio presidencial que as Forças Armadas da Somália derrotaram "finalmente" os "shebab" e a Al-Qaida e que "a sua retirada de Mogadíscio é um grande acontecimento para o povo somali".
"Os rebeldes cometeram todo o tipo de acções terroristas: mataram gente inocente, provocaram deslocações em massa e impediram a chegada de ajuda humanitária. Por isso, continuaremos a persegui-los até que saiam da Somália por completo", afirmou Ahmed.
O Presidente exortou a população a que não regresse às zonas antes controladas pelos "shebab" até que os especialistas em segurança do Governo as passem em revista e comprovem que não existem lá explosivos.
Um soldado governamental enviado, este sábado, ao distrito de Yaqshid, citado pela agência espanhola Efe, indicou que as tropas do Governo estão a avançar muito lentamente e que estão a analisar todo o território abandonado pelos shebab.
"Suspeitamos que o grupo deixou explosivos que detonarão quando aqui estivermos, pelo que estamos a movimentar-nos com muito cuidado", disse o militar.
Na sexta-feira à noite, os "shebab" retiraram os seus combatentes dos distritos de Yaqshid, Hawlwada, Karan, Huriwa e Daynile, todos da capital, embora garantindo que continuarão a lutar contra os efectivos da Missão da União Africana na Somália (AMISOM).
As zonas de Mogadíscio que eram controladas pela Al-Shabab ficaram completamente destruídas após dois anos de contínuos confrontos entre a Al-Shabab e as forças do Governo de transição, apoiadas pela missão de paz da União Africana.
O porta-voz dos "shebab", Ali Mohamed Rage, disse à rádio local Al-Andalus, propriedade dos rebeldes, que se retirou de Mogadíscio para evitar que os bombardeamentos da AMISOM causassem mais mortes.
"Depois de um mês de longas reuniões e debates, decidimos mudar de tática de guerra e retirar-nos por completo de Mogadíscio, mas ainda estamos noutras zonas [da Somália]", declarou Rage.
"A AMISOM decidiu utilizar o seu armamento mais pesado para massacrar os cidadãos de Mogadíscio e, como queremos reduzir o número de mortes entre a população civil, chegámos à conclusão de que temos de retirar-nos", acrescentou.
Desde 2006, quando forças etíopes conseguiram restaurar a ordem em Mogadíscio depois de forçar a retirada da União dos Tribunais Islâmicos, a capital tem sido palco de constantes combates.
"As pessoas estão felizes, estão nas ruas, sentem-se livres, porque o facto de não haver confrontos em Mogadíscio significa que há paz na Somália", disse Abdulkader Mohamed Osman, analista político que este sábado visitou as zonas de que a Al-Shabab se retirou.
"No entanto, [os combatentes 'shebab'] deixaram uma cidade-fantasma e, por isso, devem ser detidos e responder perante a Justiça", defendeu.
A Somália vive em permanente guerra civil e sem um governo central efectivo desde 1991, altura em que foi derrubado o ditador Mohamed Siad Barre, o que deixou o país nas mãos de chefes tribais e senhores da guerra, milícias islâmicas e até bandos de delinquentes armados.