União Europeia pede auditoria ao recrutamento de agência da ONU para palestinianos
O subsecretário-geral da ONU Philippe Lazzarini revelou, esta segunda-feira, que a Comissão Europeia pediu uma auditoria aos procedimentos de recrutamento na agência que apoia a população palestiniana (UNRWA) e um reforço da supervisão, condições necessárias para assegurar as contribuições comunitárias.
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Em conferência de imprensa conjunta com o alto-representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, em Bruxelas, o subsecretário-geral da ONU e também comissário-geral da Agência das Nações Unidas de Apoio aos Refugiados da Palestina no Médio Oriente (UNRWA, na sigla em inglês) disse que a Comissão fez depender uma contribuição de 82 milhões de euros "no início de março" de duas condições.
A primeira é "uma auditoria ao recrutamento" na UNRWA, segundo referiu Lazzarini, acrescentando que o executivo comunitário também pediu um "reforço da supervisão" do trabalho da agência da ONU para assegurar que todas as contribuições estão a ser utilizadas exclusivamente para apoiar a população palestiniana.
Philippe Lazzarini encorajou Israel e quaisquer partes com informações sobre as alegações de envolvimento de funcionários da UNRWA nos ataques em território israelita de 7 de outubro de 2023, perpetrados pelo movimento islamista palestiniano Hamas, a partilharem informações que auxiliem a investigação independente. "Peço total cooperação para partilhar provas, evidências, destas alegações horríveis", afirmou.
Sobre a situação na Faixa de Gaza, território controlado pelo Hamas e que tem sido alvo de intensos bombardeamentos israelitas desde o início de outubro do ano passado, Philippe Lazzarini disse que no enclave palestiniano "há uma sensação profunda de pânico e desespero" e que a "desnutrição vai levar, possivelmente, à morte de pessoas esfomeadas". "Pela primeira vez, a ONU não pode operar com o mínimo de proteção, que é a polícia (...), muitos morreram nos bombardeamentos", frisou o representante.
O chefe da diplomacia europeia lembrou, por sua vez, que a UNRWA não está apenas a trabalhar na Faixa de Gaza, "também está presente no Líbano, Síria, Jordânia, na Cisjordânia" e "mais de dois milhões de pessoas dependem deste apoio crítico, só em Gaza".
Em termos globais, a organização apoia quase seis milhões de refugiados palestinianos. Josep Borrell defendeu ainda que continuar a apoiar a agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos, apesar das acusações feitas por Israel, "é um imperativo humanitário" e cortá-lo pode desencadear "repercussões para a estabilidade na região".
Face às suspeitas de envolvimento de alguns funcionários da UNRWA nos ataques de 7 de outubro do Hamas, vários países, incluindo os principais doadores, suspenderam o envio de fundos para a agência.
Agência da ONU para refugiados apela a ajuda rápida da UE
A Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos (UNRWA) afirmou ser "vital" receber rapidamente novos fundos da União Europeia (UE), porque Israel se prepara para um ataque terrestre a Rafah, onde muitos civis se refugiaram.
Segundo o comissário geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, a organização está a sofrer com as alegações de que 12 dos seus 13 mil funcionários em Gaza participaram nos ataques do Hamas a 7 de outubro no sul de Israel. A UNRWA despediu imediatamente os funcionários, mas mais de uma dúzia de países suspenderam o financiamento no valor de cerca de 440 milhões de dólares (cerca de 409 milhões de euros), quase metade do orçamento da organização para 2024.
Questionado sobre a importância de a UNRWA receber um pagamento de 88 milhões de dólares (82 milhões de euros) da UE até ao final do mês, Lazzarini, disse ser "absolutamente crítico", salientando que já tinha avisado que a agência poderia ser forçada a fechjar portas antes do início de março.
Dos cerca de 13 mil funcionários da agência das Nações Unidas em Gaza, mais de três mil continuam a trabalhar no local. Seria impossível averiguá-los todos no espaço de semanas, e o tempo é essencial. A agência tem sido o principal fornecedor de alimentos, água e abrigo durante a guerra em Gaza, onde cerca de 85% da população foi deslocada. Parte da auditoria incluiria uma nova "avaliação por pilares" da UNRWA.
A Comissão Europeia efetua regularmente estes controlos das agências que financia para garantir que cumprem as normas da UE. Mas até o comissário europeu para a gestão de crises, Janez Lenarcic, admitiu hoje que a avaliação da UNRWA "foi concluída muito recentemente". A agência foi também incluída numa auditoria lançada pela Comissão em outubro, que concluiu que não estavam a ser canalizados fundos para o Hamas.
O chefe da política externa da UE, Josep Borrell, que presidiu à reunião, disse aos jornalistas que "mais ninguém pode fazer o que a UNRWA está a fazer". "A presunção de inocência é válida para todos, em qualquer altura, mesmo para a UNRWA. Não é segredo que o governo israelita quer livrar-se da UNRWA", afirmou Borrell.
Há muito que Israel acusa a UNRWA de tolerar ou mesmo colaborar com as atividades do Hamas nas instalações das Nações Unidas ou nas suas imediações, mas não chegou a exigir o encerramento imediato da agência. Ninguém - em Israel ou no estrangeiro - ofereceu uma alternativa para a entrega de ajuda à população sitiada de Gaza. Mas, no fim de semana, o exército israelita disse ter descoberto túneis por baixo da sede principal da agência na cidade de Gaza, alegando que os militantes do Hamas usavam o espaço como sala de abastecimento elétrico.
Borrell advertiu que, se a UNRWA deixar de funcionar, "a situação será ainda pior. "Centenas de milhares de pessoas são alimentadas e comem todos os dias graças ao trabalho da UNRWA. E não é só em Gaza, mas também no Líbano, na Síria, na Jordânia", concluiu.
"Parem de pedir por favor e façam" algo
O alto-representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, criticou os Estados-membros que apelam a uma resposta militar proporcionada de Israel, mas continuam a apoiar Telavive com armamento. "Toda a gente vai a Telavive pedir: 'Por favor, estão a morrer demasiadas pessoas'. Quantas pessoas são demasiadas? [Benjamin] Netanyahu não ouve ninguém. Diz que as pessoas [palestinianas] têm de sair. Para onde? Para a Lua? Para onde vão estas pessoas", disse Josep Borrell em conferência de imprensa conjunta com o subsecretário-geral das Nações Unidas responsável pelo apoio à população palestiniana, em Bruxelas.
O chefe da diplomacia europeia acrescentou que se há países, nomeadamente Estados-membros da UE, que "acreditam que é um massacre" o que está a acontecer na Faixa de Gaza e que "demasiadas pessoas estão a morrer, então têm de pensar no fornecimento de armas". "Cada Estado-membro é responsável pela sua política externa, mas é no mínimo contraditório dizer: 'Há demasiadas pessoas a morrer, por favor não matem tantas'. Parem de dizer 'por favor' e façam alguma coisa", completou.