Na estação de comboios de Wroclaw Glówny, na Breslávia, a que mais passageiros serve em toda a Polónia, estavam os 44 refugiados ucranianos que há vários dias esperavam pelo autocarro que tinha partido de Braga, na passada quinta-feira, com objetivo de os transportar para Portugal. A viagem de regresso começou este sábado.
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Passava pouco das 11 da manhã e seguíamos para a estação num Uber cujo condutor nem "olá" sabia dizer em inglês, mas guiava ao som de uma música que mais parecia um "pimba" da Ruth Marlene, cantado em Polaco. A ansiedade dos voluntários abafava qualquer desconforto desta pequena viagem, muito diferente daquela de 2900 quilómetros feita nos dias anteriores. "Espero que estejam lá todos, não quero deixar ninguém para trás", suspirava Romana Meireles, voluntária e principal elemento de ligação com os refugiados a partir de Portugal.
Entrámos na estação e eram às centenas as pessoas a correr para a frente e para trás. Contudo, no meio da confusão, não foi difícil encontrar o grupo de ucranianos certo, quando o nosso olhar encontrou as cores vivas da bandeira portuguesa nas costas de um dos voluntários que tinha os reunido. "Vim para aqui ajudar quem, assim como eu, está a passar por esta situação difícil", explica Iryna, ucraniana de 36 anos e natural de Zaporizhzhya, que conseguiu sair do país natal e está, também, como refugiada na Polónia.
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Para o grupo que viajará para Portugal foi importante ter alguém "como eles" a ajudar no processo, alguém que percebia todos os sentimentos envolvidos. Afinal, a família de Iryna também continua na Ucrânia: "Quero voltar assim que possível, falo com eles a todas as horas para saber se estão bem".
O primeiro contacto com o grupo foi algo confuso, apenas dois dos cinco voluntários que viajaram de Portugal sabem falar ucraniano e entre os refugiados reinava a impaciência. "Estou aqui à espera desde as sete horas, quero entrar no autocarro e descansar", confessava Olga, 70 anos, uma das mais velhas do grupo, acompanhada por dois familiares: "Deixei os homens, mas peguei na minha filha e na minha neta e fugi da guerra". Olga já esteve em Portugal, onde viveu e trabalhou até 2001. Depois de chegar a Braga, o destino já está definido: "Vou para Águeda, tenho lá amigos que vão acolher-me".
Dos 44 refugiados que chegarão a Braga, 17 são crianças, as únicas a quem foi possível vislumbrar um sorriso. Os filhos foram quase sempre o motivo que levou estas 16 famílias a abandonar a Ucrânia. "Se não fosse pelo meu filho, ficava a lutar pelo meu país", confessa Svetlana, de 31 anos e natural de Kiev, que saiu de casa a 24 de fevereiro, o primeiro dia da invasão russa. "Quando ouvi os primeiros barulhos de bombas decidi que tinha que sair de casa", explica, com o filho no colo.
A capital da Ucrânia, Kiev, é a principal zona de conflito e sofre bombardeamentos praticamente desde o primeiro dia de guerra. "Os meus familiares refugiram-se em minha casa. A minha mãe ligou-me ontem a chorar por causa do barulho dos bombardeamentos", conta Svetlana.
O objetivo de sair o mais rápido possível da Ucrânia não impediu que muitos destes refugiados trouxessem os animais de estimação, e não falamos apenas de cães e gatos, neste grupo há porquinhos da Índia ou até mesmo cobras que seguem viagem até Portugal.
Apesar da situação, há uma vontade que une todos os refugiados do grupo: voltar para as famílias, voltar para a Ucrânia, voltar para casa.