Dana, Penny, Quenza e Leila têm em comum a admiração pela família real britânica. Agora é tempo de estender os braços a Carlos III, mesmo que isso implique dormir ao relento.
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Camisola escura com a face circunspecta de Carlos, lenço amarrotado com as cores da Grã-Bretanha e um chapéu resplandecente, no qual se destacam os semblantes dos soberanos. A indumentária que enverga e o entusiasmo espelhado no rosto fazem crer que Dana é uma britânica fervorosa que passou os seus mais de setenta anos de vida a acompanhar de perto a monarquia britânica. E passou, mas do outro lado do Atlântico.
"Pode não ser o meu rei, mas é um fantástico. É a História a acontecer e não quero perder", admite a norte-americana, que deixou o Connecticut para assistir à inscrição de um novo capítulo no século XXI. Quem passa no The Mall - que liga a residência da Coroa ao Admiralty Arch - não resiste a fotografar todo o cenário assentado pela entusiasta, que tem pernoitado numa tenda instalada a poucos metros do Palácio de Buckingham. E há quem questione se é a primeira vez que pisa terras de Sua Majestade. Dana ri-se, nostálgica.
Marcou presença no casamento do príncipe André e Sarah Ferguson e também não faltou ao de William e Kate. Agora, não quer descartar a oportunidade de ver de perto o rei, que, ao lado de Camila, vai amanhã desfilar nas principais artérias do coração de Londres, antes e depois da coroação na Abadia de Westminster. "Será um excelente monarca", ressalva sem desmerecer a antecessora. No entanto, lembra que o "tempo é de viragem".
Penny não poderia estar mais de acordo. "Ela é tudo o que conheci até agora, mas chegou o momento do Carlos. Viva ao rei!", exclama a britânica que percorreu os mais de 120 quilómetros que separam Ramsgate da capital britânica, para se acomodar numa pequena tenda, onde irá permanecer até amanhã. Não sabe se a frágil cabana que a alberga irá sobreviver à chuva e ao vento previstos, mas a meteorologia é o menor dos problemas. O que a preocupa é a possibilidade de o Reino Unido se tornar uma república. "A família real é algo que todos temos em comum. Quando existem figuras com peso político isto que se vê aqui não acontece", defende.
E não é a única. Quenza destaca-se no meio dos simpatizantes. Não enverga o branco, vermelho e azul que monopolizam a famosa avenida e destaca-se por usar um chapéu com a bandeira do país que a viu nascer, que, em caso de dúvidas, está estendida atrás da cadeira onde se senta. "Temos uma monarquia fantástica. São os nossos embaixadores", realça, ao defender que o País de Gales não tem capacidade para sobreviver de forma autónoma, contrariando a ideia dos nacionalistas de fazer avançar o país para um "Wexit". A enfermeira gaulesa mostra-se descontente com a degradação das condições laborais, mas acredita que os problemas não devem cair sobre os ombros da monarquia, cuja única incumbência "é dar lugar a uma nova geração".
As linhas em que se escreve o futuro são incertas, mas o sinónimo de renovação são as crianças. Leila, de sete anos, já tem noção disso e, embora se mostre ocupada entre correrias e desenhos, garante que estará atenta aos tempos vindouros. "Isabel II foi uma boa rainha, mas estou ansiosa para ver o que fará o novo rei", assegura, com um sorriso de esperança, que não se desvanece mesmo sabendo que terá de dormir mais uma noite ao frio para poder assistir ao momento do aceno real.