Jorge Tavares da Silva é professor na Universidade de Aveiro e escreveu livro no qual é feita uma análise minuciosa à vida e às políticas do controverso líder chinês.
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Xi Jinping, presidente da China desde 2012, inaugurou uma terceira era no discurso político do país. Na base da longa liderança está a gestão de um novo e decisivo impulso para a transformação de Pequim e a sua inserção internacional, abrindo um novo ciclo. O livro "Xi Jinping - A Ascensão do Novo Timoneiro da China" analisa a personalidade do líder, as políticas associadas ao Governo que lidera e os impactos na ordem global. Abordagens que são questões cruciais num momento de inflexão histórica caracterizada pela consolidação da China como ator mundial.
Quem é Xi Jinping fora da vida política?
Quando se fala da figura de Xi Jinping, ou de qualquer outro presidente da China, as informações sobre aspetos da vida privada são sempre escassas. Ainda assim, sabemos que é um homem que se rege por hábitos simples, comedido nas suas despesas, e discreto, talvez uma das grandes virtudes para chegar onde chegou. Xi Jinping mantém-se modesto, muito dedicado à família, à mulher e à filha. Aprecia coisas simples, como o cinema e a música.
Que influências políticas repescou e que peso é que estas têm na conduta atual do líder?
A ligação ao pai, Xi Zhongxun, é a maior herança que Xi Jinping recebeu ao longo do percurso de vida, que está transposta na conduta que exerce. Em muitos sentidos, é um "produto paterno", foi nele que o pai depositou todas as energias na construção de uma figura política. Por isso, propaga a necessidade das novas gerações prestarem devoção ao Partido Comunista, seguindo os ensinamentos desde cedo.
O culto da personalidade é uma prova do reforço do centralismo político?
Sim, um culto da personalidade que já não se via deste o tempo de Mao Tsé-Tung. O presidente recuperou um estilo de liderança forte, em redor da sua figura, numa aura de santidade, fazendo lembrar os velhos tempos da China imperial. Assim, é um "chairman", um "zhuxi", uma espécie de diretor executivo de uma enorme organização, tal como está designado nos documentos oficiais. Estando longe de ser unânime, é uma figura reverenciada pelo povo, o que lhe permite conseguir perpetuar-se no poder.
Qual a imagem quer passar à comunidade internacional?
Pretende passar ao Mundo a imagem de um país com boas intenções, pacífico, harmonioso e cooperante. Mas esta é também uma imagem programada, com vista ao alcance dos objetivos políticos. Muitas vezes os slogans propagandísticos não correspondem à realidade. A inexistência de uma sociedade civil e de uma Comunicação Social livre não nos permite averiguar com mais detalhe estas discrepâncias. Por exemplo, Xi Jinping, afirma-se como um defensor da globalização e do comércio livre, mas a verdade é que lidera um país muito protecionista.
Que desafios enfrenta a China de Xi Jinping no âmbito das relações externas?
No centro das relações externas da China está a dinâmica com os EUA. A gestão desta matéria pode significar a sobrevivência política de Xi Jinping, sendo que um sinal de fraqueza pode ser fatal. As relações sino-americanas foram evoluindo num quadro de interesses, mas a matriz sociopolítica dos dois países nunca foi, nem será a mesma. No que diz respeito à Europa, a comunidade aumentou as reservas em relação à China, sobretudo no quadro da competição tecnológica. Em 2019, a União Europeia não teve dúvidas em considerar o país um "rival sistémico".
O que procura ao fomentar o investimento em África?
O investimento chinês no continente africano tem dois objetivos. Por um lado, obter matérias-primas, particularmente petróleo. Por outro, visa captar para a sua esfera de influência os países africanos, capazes de defender as posições chinesas.