Dominic Cummings, assessor principal de Boris Johnson, idealizou a campanha pelo Brexit. E luta pelo "no deal".
Corpo do artigo
É o Steve Bannon à inglesa, o estratega que é para o novel primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, aquilo que o acima nomeado foi para a campanha do presidente dos EUA, Donald Trump: o radicalismo sem vírgulas, o homem que pode muito bem conduzir o Reino Unido e a União Europeia a um divórcio litigioso sem reparação à vista. É Dominic Cummings, idealizou o Brexit e a vitória do voto pela saída em 2016 e foi convidado por Johnson para assessor principal no número 10 de Downing Street. Há quem diga que Cummings é o número 10 e vai terminar a obra iniciada há três anos.
O objetivo do estratega - que se faz inevitavelmente acompanhar do saco de pano da campanha pelo Brexit ("Vote Leave") e foi descrito pelo antigo primeiro-ministro David Cameron como um "psicopata de carreira" - é cortar amarras com o continente da forma mais radical possível. E, para isso, está a trabalhar afincadamente para evitar a convocatória de eleições antecipadas, uma realidade cada vez mais plausível dado o equilíbrio de forças em que se transformou a política britânica - o facto de os Conservadores do primeiro-ministro já só terem um deputado acima da maioria significa que basta uma mão cheia de tories opositores para fazer cair Johnson à primeira oportunidade.
A Guerra incivilizada
Dominic Cummings, retratado no filme "A guerra incivilizada", nasceu no seio da classe média de Durham em 1971 e desenvolveu ao longo da vida um desprezo visceral pelo poder legislativo britânico. Fala russo e é fã de matemática. Em 1999, liderou uma campanha - vencedora, contra a adesão do Reino Unido ao euro. Em 2006 idealizou o "Vote Leave" e as mentiras do argumentário e socorreu-se da famosa (e defunta) consultora Cambridge Analytica, conhecida por canibalizar dados de internautas para influenciar votos nas presidenciais de 2016 nos EUA.
Diz-se que é mestre em desinformação, que é dele o famoso slogan "Take back control" ("Recuperar o controlo") e sabe-se que é típico dele ignorar os demais: este ano foi convocado para uma comissão parlamentar sobre notícias falsas durante a campanha para o Brexit (como a dos gastos semanais de Londres com a UE) e, pura e simplesmente, não apareceu. Destilou veneno contra a ex-primeira-ministra, Theresa May, e agora tenta influenciar Johnson para que convoque eleições para depois de 31 de outubro. Aí, já o divórcio com a UE estará consumado, a mal ou a bem (a mal, espera, porque sair a bem seria a morte dos Conservadores, acredita. E seria trair os votantes do referendo) e os eleitores que transfugaram para o Partido do Brexit poderão voltar ao berço tory.
Casado com uma subdiretora da revista conservadora "The Spectator", Cummings é descrito como pouco empático e tendo "problemas de gestão de raiva". Na primeira reunião em Downing Street, ameaçou com despedimento qualquer fuga para a imprensa sobre o que prepara o gabinete de Johnson para o Brexit. O que prepara Cummings...