As várias multinacionais que abandonam a Rússia devido à guerra com a Ucrânia estão num dilema, e qualquer que seja a sua decisão, ficam sempre a perder: ou vendem à pressa ou correm o risco de serem nacionalizadas e sair de Moscovo de mãos a abanar.
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A invasão da Ucrânia pelo presidente Vladimir Putin e as sanções daí resultantes deram a muitas empresas ocidentais razões financeiras, legais e morais para sair. Mas qualquer que seja a justificação, a ameaça de nacionalizações colocou as empresas a tentar encontrar compradores o mais rápido possível. E os únicos interessados são oligarcas pró-Putin, que aproveitam o momento para um grande "desconto" na compra.
A McDonalds, após 32 anos na Rússia, anunciou a venda de seus 850 restaurantes, uma perda anual de cerca de 1,3 mil milhões de euros. O primeiro restaurante da empresa icónica do capitalismo, no dia da abertura a 31 de janeiro de 1990, juntou milhares de pessoas que esperaram durante horas a fio por um hambúrguer.
Já a marca francesa de automóveis Renault vendeu a sua participação maioritária ao fabricante local Avtovaz. A multinacional de cosmética L'Oreal, que fechou temporariamente as suas lojas na Rússia, provavelmente irá seguir os mesmos passos porque, neste momento, arrisca um boicote dos consumidores noutros mercados por continuar a ganhar dinheiro na Rússia. Ou então a tecnológica Apple, que saiu após Putin ter proibido a importação de microchips fabricados no Ocidente.
Oligarcas esperam
O problema de ter de vender à pressa é que, do outro lado, estão os compradores favoráveis ao Kremlin, como Vladimir Potanin, que ficou com as operações russas do banco francês Société Générale por um valor simbólico. Essa é uma das razões para que os grupos de produtos de consumo como a Nestlé e a Unilever permaneçam na Rússia. Porque sabem que ir embora significa entregar os ativos ao regime. Por isso, esperam. Esta estratégia pode propiciar uma gama mais ampla de compradores.
Não é por acaso que, por exemplo, a Índia tenha incentivado as suas empresas energéticas estatais a considerar a compra de ativos russos. Tal situação pode facilitar a saída de gigantes petrolíferos europeus, como a Shell ou a BP, que têm uma fortuna na Rússia avaliada em 30 mil milhões de dólares (28 mil milhões de euros).
Já a multinacional cervejeira Anheuser-Busch InBev, que detém a marca Budweiser ou Corona, vendeu a empresa russa ao seu sócio turco Anadolu Efes. A cadeia de calçado FLO, também turca, está em conversações para comprar algumas lojas Reebok, da multinacional Adidas.
Algumas empresas tentam deixar a porta entreaberta para o caso de as coisas melhorarem diplomaticamente. A venda da Renault, que foi feita por um simbólico rublo, inclui uma opção de recompra do seu negócio na Rússia durante seis anos. Mas para empresas como o banco italiano UniCredit, que continua no país, há o risco de expropriação por parte do Estado russo. O presidente da Duma (parlamento), Vyacheslav Volodin, afirmou recentemente que a Rússia deveria confiscar os ativos dos países hostis. As multinacionais que ainda estão a pensar se saem ou não, como as cervejeiras Carlsberg e Heineken, têm aqui uma indireta para se decidirem.
Preços dos alimentos
O bloqueio nos portos ucranianos poderá levar a um novo aumento dos preços, escassez, insegurança alimentar ou a tensões sociais, e Portugal vai sair penalizado, defendem analistas.
66 milhões por mês
O Programa Alimentar Mundial gasta atualmente mais de 66 milhões de euros por mês para a ajuda alimentar, devido ao aumento histórico do preço da comida, disse o coordenador de Emergência da organização, Pedro Matos.
As principais empresas que partiram do país
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