Gripe está em níveis baixos e especialistas pedem que se pondere o uso de máscara na próxima temporada de influenza
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O último relatório do Instituto Nacional Ricardo Jorge (INSA) continua a registar a tendência das últimas semanas. A incidência de casos de gripe em Portugal é praticamente nula. Tão baixa que o documento diz que a curva de casos não chegou a movimentar-se. "A taxa de incidência de síndrome gripal (SG) foi de 0,0 por 100.000 habitantes", lê-se no documento relativo à semana 49 (de 30 de novembro a 6 de dezembro), a última de que existem dados.
Um cenário que se tem repetido nos últimos tempos, e que tem levado os especialistas, como noticiou o JN no início de dezembro, a pedirem uma reflexão sobre uso futuro de máscara em determinados grupos na próxima época de influenza.
Como no hemisfério Sul
Repetir-se-á no hemisfério Norte a evidência registada no Sul? De baixa incidência de gripe sazonal por força das medidas de proteção contra a covid-19. Os especialistas acreditam que sim. Mantenhamos nós a guarda. Evitando, assim, a coinfeção, sabendo-se que a baixa de defesas provocada pela gripe abre portas a casos mais graves de covid-19. E a casos agudos de infeção respiratória, como a pneumonia, responsável por mais de 5500 óbitos anuais. Na última semana de outubro (últimos dados disponíveis), o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) indicava uma quebra de 97% no número de casos de gripe detetados, face a período homólogo de 2019. Por que razão? "Provavelmente, devido à pandemia de covid- -19 e às medidas introduzidas para a combater".
A mesma ilação já foi tirada para os países do hemisfério Sul, onde o inverno se fez com baixa incidência de síndrome gripal. "Não é uma surpresa. A transmissão do vírus respiratório é semelhante, pelo que não surpreende que medidas tão eficazes para a covid também o sejam para a gripe", explica ao JN o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia.
Máscara para o futuro?
Evidência que, na opinião do também epidemiologista do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, merece reflexão. "Em vez de encararmos como uma inevitabilidade [as estatísticas anuais de gripe], devíamos ponderar, nas próximas épocas, algumas medidas, como o uso de máscara" em grupos "a estudar, como o das comorbilidades e das idades mais avançadas".
Pensamento corroborado pelo pneumologista Filipe Froes, para quem não seria descabido, e como é prática já em determinados países do Oriente, o uso de máscara pela população com sintomas gripais. Como a escolar, por exemplo.
Os ganhos são múltiplos. A começar pela diminuição da transmissão do vírus na comunidade. Havendo menos influenza a circular, a pressão sobre os hospitais será menor. Com um ganho absoluto no ataque às coinfeções. E um impacto positivo na pneumonia.
"A gripe não olha para o boletim epidemiológico da covid-19. O objetivo [dos vírus] é replicarem-se", diz o pneumologista. Para explicar que "o vírus influenza destrói os mecanismos de defesa, potenciando a infeção por SARS-CoV-2". Ou seja, "a conjugação dos dois aumenta o risco para formas graves de covid", avisa Filipe Froes.
O virologista Pedro Simas vê a medida com bons olhos, desde que nem imposta nem generalizada. "Do ponto de vista médico e científico, faz sentido que pessoas de grupo de risco tenham a liberdade e o discernimento de se protegerem". Com essa garantia. De "escolha pessoal"