As autoridades detiveram, na quinta-feira à noite, o presumível homicida do ativista conservador Charlie Kirk, assassinado a tiro na quarta-feira, durante um evento na Universidade de Utah Valley.
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"Senhoras e senhores, apanhámo-lo": foi assim, com o habitual jeito espalhafatoso a que o sistema policial e político norte-americano habituou o Mundo, que o governador do Utah anunciou, esta sexta-feira, a detenção do homem que matou Charlie Kirk: Tyler Robinson, 22 anos, residente no Utah.
O jovem admitiu o crime a um familiar, que contactou um amigo dando conta da confissão, tendo sido este a entregá-lo às autoridades. De acordo com o governador Spencer Cox, que falou ao país em conferência de imprensa, a bala disparada pelo atirador, a partir de um telhado nas proximidades do local onde Kirk se encontrava, tinha inscrita a expressão "Hey fascist" (algo como "olá, fascista", em tradução livre), o que sustenta a tese de que o crime terá tido motivações políticas e ideológicas.
Segundo disse a família do homicida aos investigadores, Robinson ter-se-á aproximado da política nos últimos anos e seria um crítico de Kirk, que se popularizou pelos ideais conservadores e ultraliberais. Outra informação partilhada pelo governador do Estado do Utah dá conta de que o colega de quarto do atirador mostrou à Polícia a atividade recente no Discord (uma aplicação de mensagens em grupo), em que Robinson falava em adquirir uma espingarda, com pormenores acerca do método de entrega e recolha da arma, descrita pelo FBI como de "alta potência".
A detenção foi confirmada oficialmente pelo governador do Estado do Utah, Spencer Cox, acompanhado pelo xerife local, Mike Smith, e pelo diretor do FBI, Kash Patel
Foto: Patrick T. Fallon/AFP
Quando foi detido, o jovem, que enfrenta várias acusações criminais, usava roupas "compatíveis" com as que as autoridades tinham visto nas imagens de videovigilância da Universidade de Utah Valley relativas ao dia em que aconteceu o ataque. A confirmação da detenção acontece pouco tempo após o presidente norte-americano, de quem Kirk era fervoroso apoiante, ter avançado a informação da detenção de um suspeito.
Falando depois na mesma conferência de imprensa, o diretor nacional do FBI, Kash Patel, descreveu, um a um, todos os desenvolvimentos e cada uma das ações das autoridades desde o ataque até à detenção do indivíduo, terminando o discurso com uma mensagem pessoal para o "amigo Charlie Kirk". "Descansa agora, irmão. Estamos de guarda. Vejo-te em Valhalla", disse o responsável, referindo-se, no final, a um reino da mitologia nórdica para onde vão os guerreiros mortos em combate.
Diretor nacional do FBI, Kash Patel
Foto: Patrick T. Fallon/AFP
De acordo com várias fontes citadas pela imprensa norte-americana, que já tinha avançado a identidade do atacante antes de as autoridades a confirmarem, Robinson é estudante na Universidade do Estado de Utah (um estabelecimento diferente daquele onde ocorreu o crime), tem dois irmãos mais novos e a casa de família, de seis quartos e avaliada em 600 mil dólares (cerca de 512 mil euros), situa-se a cerca de 400 quilómetros do local do homicídio. Segundo a CNN e a Fox News, terá confessado o crime ao pai, polícia reformado. A mãe do jovem, Amber Robinson, trabalha para uma empresa local que presta cuidados a pessoas com deficiência.
Milhares de tributos

Milhares de flores têm sido depositadas na universidade onde o homicídio aconteceu e em vários lugares criados para o efeito
Foto: Eric Thayer/AFP
Charlie Kirk, co-fundador da organização conservadora Turning Point USA e voz influente entre a juventude trumpista, foi assassinado a tiro, na quarta-feira, durante um evento organizado pela equipa do ativista político em que participavam milhares de pessoas, na Universidade de Utah Valley. O atirador, agora detido, entrou no recinto armado e subiu até um telhado, a partir de onde disparou um tiro contra o alvo, aproximadamente a cerca de 160 metros do local onde se encontrava Kirk, de acordo com o Departamento de Segurança Pública do Utah.
A morte de Kirk dividiu ainda mais as bancadas de um país em que até a morte parece virar espetáculo. Enquanto alguns dos seus alvos e críticos nas redes sociais apontam que o ativista morreu pela lei da espada que defendia, a família republicana está de luto. Donald Trump, de quem a vítima era apoiante, descreveu o falecimento do "grande e lendário" Charlie Kirk como "um dia sombrio para a América" e culpou a retórica da "esquerda radical" por causar violência política. E o vice-presidente dos EUA, J. D. Vance, prestou tributo a um homem "fascinado por ideias e sempre disposto a aprender e mudar as suas". As várias vigílias e homenagens que se somaram por todo o país juntaram na quinta-feira e esta sexta-feira largos milhares de pessoas, que, como Trump, veem agora em Kirk um "mártir da verdade e da liberdade".
Perfil: defensor da agenda conservadora e do livre porte de armas
Inicialmente cético de Donald Trump, Charlie Kirk tornou-se um acérrimo apoiante do líder republicano
Foto: Abir Sultan/EPA
Co-fundador e diretor da organização conservadora Turning Point USA, Charlie Kirk posicionou-se, nos últimos anos, como um porta-voz da causa MAGA ("Make America Great Again") entre os jovens, levando a agenda conservadora a escolas e universidades, e apoiando fervorosamente o presidente Donald Trump, que considerava o "guarda-costas da civilização ocidental". Alvo de ódios e paixões, Charlie Kirk construiu carreira com ataques à comunidade LGBTQIA+, a pessoas negras e a muçulmanos nos EUA, argumentando assertivamente contra o que considerava ser a "doutrinação liberal" nas escolas, com críticas efusivas a temas como imigração, identidade de género, aborto, políticas sociais e direitos humanos. Defendia que o aborto era "pior do que o Holocausto" por permitir "o massacre de bebés sob o pretexto da saúde reprodutiva das mulheres", negava o direito à existência do povo da Palestina e promovia o direito ao porte de armas. Em abril de 2023, Charlie Kirk, que deixa mulher e dois filhos, defendeu que as mortes provocadas por armas de fogo eram um preço a pagar para garantir a Segunda Emenda da Constituição dos EUA - que protege o direito da população de garantir a legítima defesa através do porte de armas ou outro qualquer equipamento.