Concelho de Fronteira perdeu ponte que era "ex-libris". Governo quer levantamento de prejuízos até ao final do ano. Moedas vai criar fundo de três milhões para Lisboa.
Corpo do artigo
A chuva intensa e persistente que assolou distritos como Lisboa, Setúbal, Portalegre e Santarém perdeu, esta quarta-feira, intensidade, mas o dia foi de trabalho intenso para cerca de 9600 operacionais da Proteção Civil que, logo pela manhã, tiveram que sair à rua para serviços de limpeza e recuperação das áreas afetadas.
O Governo quer o levantamento dos prejuízos feito até ao final do ano e há autarcas que já começaram a fazer contas à vida. Só nos concelhos de Campo Maior, Fronteira e Monforte, todos no distrito de Portalegre, são estimados cerca de 28 milhões de euros para pagar os danos. Em Lisboa, Carlos Moedas promete três milhões em apoios, embora tenha dito depois que não é um valor fechado.
"Sete pessoas desalojadas, viaturas soterradas, mais de quarenta habitações e estabelecimentos comerciais alagados. São mais de dois milhões de euros de prejuízo, numa primeira avaliação", revela ao JN, Luís Rosinha, presidente da Câmara de Campo Maior, por onde, ontem, passou a ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa.
Agricultores afetados
Em Monforte, o autarca Gonçalo Lagem perspetiva que o mau tempo tenha resultado num prejuízo que pode chegar "aos oito milhões de euros", sem contabilizar os danos no setor agrícola.
A poucos quilómetros dali, em Fronteira, a força da água destruiu o tabuleiro e guardas da ponte histórica da Ribeira Grande, um "ex-libris" que permitia a circulação rodoviária entre o concelho e Alter do Chão, através da EN245. Para reerguer este património e tratar outros danos, o autarca Rogério Silva, estima que sejam necessários "18 milhões de euros".
Ainda no distrito de Portalegre, em Sousel, mais de 50 famílias da freguesia de Santo Amaro, ficaram "com todos os bens danificados". Mais acima, em Santarém, três famílias, num total de 14 pessoas, ficaram desalojadas em Coruche. A Norte, o rio Douro inundou o cais de Gaia e atingiu alguns espaços comerciais.
O caos instalou-se, também, em diferentes artérias pelo país. Hoje, "mais de duas dezenas de estradas" continuavam cortadas, segundo a Infraestruturas de Portugal . Exemplo disso foi a queda de pedras que fechou a via entre as aldeias de Bagaúste e Covelinhas, em Peso da Régua.
Numa visita a Loures, um dos concelhos afetados pelo mau tempo, a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, reforçou que o Governo quer o levantamento dos prejuízos feito até ao final do ano "para desenhar os apoios o mais célere possível". Na passada sexta-feira, a governante tinha apontado o limite para 15 de janeiro. Sobre os apoios, o ministro das Infraestruturas e da Habitação garantiu que "todas as famílias" desalojadas "terão respostas". Ontem à noite, Carlos Moedas antecipou, à TVI, que Lisboa quer criar um fundo "de, pelo menos, três milhões de euros para apoiar os comerciantes e particulares". A cidade ativou, ainda, um plano de contingência para sem-abrigo.
Críticas
No Parlamento ouviram-se críticas, da Esquerda à Direita, à atuação do Governo. O Chega estendeu-as ao autarca de Lisboa, Carlos Moedas, acusando-o de dar "trocos" aos munícipes afetados . O partido referiu-se às as alterações climáticas como "agendas ideológicas", ouvindo críticas.
O PSD acusou o Chega de "branquear a incapacidade de prevenção" do Governo ao atacar Moedas. À Esquerda, PCP e BE explicaram as cheias como fruto da "submissão" de PS e PSD às "lógicas de lucro máximo" nas cidades. A IL lembrou que as autarquias do PCP também foram afetadas, com os comunistas a enumerarem várias obras locais que realizaram e que terão ajudado a mitigar as cheias.
*Com Ana Luísa Delgado, Eduardo Pinto e Teixeira Correia