Município foi um dos mais afetados. Autarquia vai apoiar famílias e comércio com um milhão de euros.
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Em Frielas, Loures, esta quarta-feira ainda se limpavam ruas, removia-se lama que impedia moradores de saírem de casa e tentava-se salvar o que restou do que a chuva intensa, da madrugada de terça-feira, destruiu.
Neste concelho, as cheias deixaram 12 pessoas desalojadas e comerciantes a ponderarem fechar os negócios. A Câmara de Loures anunciou, hoje, que vai dotar o Fundo de Emergência Municipal com um milhão de euros para apoiar famílias e comerciantes, mas lojistas dizem que não podem esperar por verbas porque "há contas para pagar".
A humidade excessiva, devido às cheias, no interior da casa de Maria Jorgete, 81 anos, deixou-a sem teto do dia para a noite. "Não posso estar aqui assim, tenho bronquite", diz a moradora que, na madrugada de ontem, ficou sem arca frigorífica, máquina de lavar a roupa e armários. "Vai tudo para o lixo, mas o pior foi a noite da inundação. Tive de dormir nas escadas do prédio porque a casa estava cheia de água e lama", conta a idosa que ali vive sozinha e que, em 60 anos, garante, foi a primeira vez que lhe entrou água em casa. "Nunca subiu a este nível".
"Impossível"
Jonny Vieira, brasileiro a viver há um ano em Portugal, também ficou desalojado. Está a dormir em casa de amigos, mas os três homens com quem partilhava casa já alugaram quartos noutros sítios. "Eu só devo voltar em janeiro, está impossível como está. Foi muito assustador, a água subiu 1,20 metros", desabafa, no meio de móveis partidos, camas sem colchões e equipamentos de trabalho destruídos.
Sara Teixeira, proprietária de um cabeleireiro, perdeu tudo pela segunda vez. "Já tinha móveis novos, depois da cheia da semana passada, e foi tudo à vida outra vez. Tenho vontade de fechar porque não vou estar sempre em sobressalto quando chove. Acho que aqui vão fechar todos", lamenta a comerciante, que também tem um restaurante ao lado. Nem as verbas anunciadas pela Autarquia a animam.
"Se estivermos à espera da ajuda não comemos. Demoram sempre. Como é que vou pagar as contas e aos funcionários?", reclamava.
Abílio Silva, 65 anos, vive perto da ribeira e não sai de casa há dois dias. "Não consigo sair. Estão fartos de tirar terra, mas ainda não saiu tudo", partilhou.
Décio Ferreira tinha começado a remodelar a antiga casa dos pais, para onde ia viver, quando a chuva destruiu tudo. "Tinha aqui muito material de construção que se estragou. Tenho 60 anos, esta situação não dá ânimo para voltar a começar tudo do zero. Isto já aconteceu várias vezes e não fazem nada para que não se repita", criticou.