Todos os distritos do país têm municípios a descoberto. Picos de procura obrigaram a ratear entregas. Pressão sobre testagem dispara antes dos jogos de futebol.
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Em 35% dos concelhos de Portugal continental não há farmácias a fazer testes rápidos à covid-19 comparticipados pelo Estado. E nenhum distrito do país tem todos os seus concelhos com, pelo menos, uma farmácia a fazer estes testes, numa altura em que milhares de pessoas estão obrigadas a apresentar um certificado de testagem para aceder a hospitais, lares, discotecas ou grandes eventos públicos.
Desde que entraram em vigor as novas regras de testagem, a procura nas farmácias disparou. As entregas foram rateadas para evitar ruturas de stocks, mas já há armazenistas com as prateleiras vazias e sem data para entregas, referiu ao JN Manuela Pacheco, presidente da Associação de Farmácias de Portugal (AFP). A Associação Nacional de Farmácias (ANF) admite a escassez, mas garante que entre hoje e segunda-feira haverá reabastecimento.
Os grandes jogos de futebol, cujo acesso implica a realização de um teste PCR ou de antigénio ou um autoteste com certificação de um profissional de saúde, pressionam a resposta das farmácias nas grandes cidades, onde encontrar uma vaga é tarefa difícil.
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Foi assim por estes dias em Lisboa, por causa do dérbi de hoje, e deverá voltar a acontecer no início da semana, no Porto, devido ao jogo do F.C. Porto com o Atlético de Madrid. "Não vamos ter hipótese de satisfazer a procura", antevê Manuela Pacheco. "Sempre que há um grande evento, pode haver constrangimentos no acesso aos testes", avisa Ema Paulino, presidente da Associação Nacional de Farmácias, notando que a capacidade das farmácias tem vindo a aumentar, com um recorde de 47 500 testes realizados na terça-feira, mas "não é inesgotável".
falhas em todo país
Além dos picos de procura, poucas farmácias (673 até ontem ao final da tarde) e laboratórios (181) aderiram ao regime que permite a realização de quatro testes gratuitos por mês, independentemente do estado vacinal ou da idade. A estas acrescem mais cerca de 200 farmácias que fizeram protocolos com os municípios.
Um levantamento feito pelo JN até ao final da manhã de ontem, na plataforma disponível no site do Infarmed, revela que nenhum distrito tem todos os concelhos com pelo menos uma farmácia a fazer testes comparticipados a 100% pelo Estado. No distrito de Beja, por exemplo, há apenas uma farmácia em Odemira a dar esta resposta, o que motivou uma pergunta do PCP ao Governo.
Nos 12 municípios de Bragança, cinco não têm farmácias com testes gratuitos e em Castelo Branco só há em três dos 11 concelhos. Em Faro, dez dos 16 municípios estão a descoberto e na Guarda faltam em seis dos 14 concelhos. Em Portalegre, nove dos 15 concelhos não têm farmácias a fazer testes gratuitos e em Viana do Castelo metade dos dez concelhos também não têm esta resposta. Em Lisboa, Porto, Braga e Coimbra há mais soluções, mas ainda assim longe do necessário para a procura.
A ANF e AFP reconhecem as assimetrias geográficas, mas lembram que em muitos casos as farmácias não têm equipas nem espaços para dar esta resposta. Se o preço pago pelo Governo por cada teste (10 euros) fosse superior poderiam contratar pessoal e adquirir estruturas, defende Ema Paulino.
O que mudou
Acesso a eventos
O acesso a grandes eventos - mais de cinco mil pessoas em espaço aberto ou mil em espaço fechado - obriga à realização de um teste PCR (nas 72 horas anteriores) ou de um teste de antigénio (48 horas) ou de um autoteste certificado por um profissional de saúde.
Hospitais e bares
Os testes também são obrigatórios para visitar doentes internados em hospitais, residentes em lares e para entrar em bares e discotecas.