Há candidatos que andam na estrada acompanhados por poucos e que nem sequer são reconhecidos por onde passam.
Corpo do artigo
Cândido Ferreira entrou sozinho, a meio da manhã de ontem, no café Sporting, em Mamodeiro, Aveiro. Sentou-se à conversa com dois jornalistas, enquanto bebia uma água com gás, e passou totalmente despercebido a quem, ao balcão, tomava uma bebida. À saída, o médico, natural de Febres, Cantanhede, dirigiu-se à proprietária. "Sou candidato a presidente da República", disse-lhe. "Ai é? Então boa sorte", ripostou a mulher, com um sorriso. E Cândido seguiu, prosseguiu sozinho, para a campanha.
Se dúvidas houvesse, a campanha confirma que a televisão é o principal barómetro do povo. Quem não aparece, esquece. "Não o conheço da TV", disse, esta semana, uma utente de um lar de Perafita, Matosinhos, a Jorge Sequeira. O candidato não se calou. "Sou mais conhecido fora do quadradinho". E como estes, há outros exemplos. Em véspera de eleições, esta é a principal batalha de alguns candidatos: darem-se a conhecer, enquanto o tempo corre.
Na estrada, a estrutura de campanha é curta. Paulo Morais, antigo vice-presidente da Câmara do Porto, anda acompanhado pela mandatária nacional, Teresa Serrenho, e pelo seu assessor, aos quais se juntam pequenos grupos de apoiantes, que dinamizam as ações nas diferentes cidades. Na rua, à primeira, ainda há muitos que não o reconhecem. Mas quando o candidato aborda as pessoas, reaviva-lhes a memória. "Ah, é aquele que é contra a corrupção", recorda o povo, lembrando o que ouve nos debates.
Foram, precisamente, os debates televisivos que conseguiram tirar do anonimato alguns dos que concorrem a Belém - mesmo no caso de Cândido Ferreira, conhecido por ter abandonado, em direto, o único debate em que participou, por não concordar com a forma como as mesas-redondas foram agendadas.
Fonte da candidatura de Henrique Neto confirmou ao JN o que mudou com a aparição na televisão. "Desde que começaram os debates e com os tempos de antena, a notoriedade aumentou". O empresário e antigo deputado na Assembleia da República faz-se acompanhar de três ou quatro carros de apoiantes. E conta também com grupos locais que lhe marcam as estadias e organizam as visitas.
Mas há quem opte por evitar a rua. "As pessoas ainda não me conhecem o suficiente. Pode ser que até ao fim de semana esse fenómeno aconteça", afirmou ao JN Cândido Ferreira, que nem por isso se sente com menos força para vencer. "Ninguém é campeão nacional, se não ganhar na sua rua. E nas ruas onde eu passei - isto é, nos sítios onde me conhecem -, sou campeão", deixou claro o candidato, que se assume "sem apoio partidário nem financeiro de ninguém" e segue estrada fora com um assessor, um apoiante e um motorista.
Ontem, reuniu com o reitor da Universidade de Aveiro, mas não contactou com os alunos. Depois, encontrou-se com o proprietário da Moviflor. Diz que tem uma estratégia: "Passar a sua mensagem, de uma candidatura moderada".