
Os domingos de Joaquim Queirós, um dos 13 diáconos permanentes da diocese de Bragança-Miranda, são passados a levar a palavra de Deus a aldeias que, por limitação de sacerdotes, não podem contar com a eucaristia, cerimónia que só pode ser celebrada por padres. Também ajuda na preparação e na liturgia da eucaristia na cidade de Bragança. "Os domingos são assim", contou.
Ordenado em 2017, Joaquim usa vestes litúrgicas, que são diferentes das dos sacerdotes, ainda que pouco percetíveis para a população que, não raras vezes, o trata por senhor padre. Assim, foi um destes domingos, em Celas, no concelho de Vinhais, onde levou a palavra de Deus pela primeira vez. "Não é a mesma coisa. Não podemos celebrar a eucaristia, nem dar a absolvição dos pecados na confissão, nem a unção aos doentes. Podemos fazer o resto, em nome do pároco, como presidir a batizados, funerais, abençoar casamento e a celebração da palavra", descreveu.
Refuta a ideia popular de que um diácono é "meio padre". "Nada disso. É um auxiliar que colabora com o pároco", vincou.
A sua estreia nas aldeias de Celas e Mós de Celas, atrás da serra da Nogueira, onde se chega por uma estrada estreita, sinuosa e cheia de buracos, correu bem. "Nestas comunidades pequenas, às vezes estão três ou quatro pessoas, não há quem abra a igreja, quem prepare as alfaias e os livros para a celebração, não há quem leia as leituras. Hoje, em Celas, tivemos sorte, porque havia baste gente", ressalvou.
Defende que todas as comunidades têm direito ao domingo. "Não é por haver poucos habitantes que se vão abandonar", vinca. A missa até tem um caráter social. "Muitos idosos têm um motivo para sair de casa, ir à igreja e encontrar outras pessoas", explicou.
"é melhor que nada"
O seu interesse por esta missão é tão grande, que tem aulas de canto num grupo coral para poder ajudar nos cânticos da missa.
Joaquim sempre foi ligado à Igreja. "Ao domingo, eu e o meu irmão, João, sempre íamos com o meu pai à missa da Sé, em Bragança, e estava lá um senhor que nos dava uma pagela com a imagem de um santinho. Eu portava-me sempre bem para a receber", recordou.
Também foi sacristão, depois acólito e esteve ligado à pastoral juvenil. Por uns anos, afastou-se da Igreja por falta de tempo. Foi estudar para o Porto, depois iniciou a profissão de professor, casou e foi pai. "Andei pela política, mas um dia o Senhor colocou-me uma pedra no caminho. Isso fez-me refletir que não estava na rota certa. Virei-me para Deus. É uma via exigente, pois tendo família temos algumas limitações, mas faz-se um esforço", referiu.
Para Fernanda Mazeda, habitante de Celas, a missa dos diáconos é uma alternativa à dos padres. "É melhor do que não ter nenhuma. É uma forma de não nos esquecermos que é domingo", explicou.
