A falta de ordenações sacerdotais e a idade avançada de grande parte dos párocos são as principais razões para que cada vez mais diáconos e leigos exerçam funções na Igreja que, durante muitos anos, cabiam apenas aos padres.
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D. Vitorino Soares, bispo auxiliar do Porto, eleito na Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) para a presidência da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios, acredita que a boa aceitação de diáconos casados pode ser o ponto de partida para a discussão sobre o celibato.
Nos últimos oito anos, o número de padres aumentou de 2524 (em 2015) para 2698 (em 2023). Mais 174 sacerdotes que não significam um crescimento das vocações nem o aumento do número das ordenações, mas que são sinónimo da mobilidade dos sacerdotes que, entre outros motivos, terminam os estudos no estrangeiro e regressam a Portugal. A presença de sacerdotes estrangeiros, sobretudo do Brasil e países africanos, também contribui para a aumentar o número de sacerdotes.
Diáconos casados
Contudo os padres continuam a ser insuficientes para as paróquias existentes. De acordo com o Anuário Católico, os 2687 sacerdotes são responsáveis por 4375 paróquias. A nova realidade faz com que casamentos, batizados e funerais sejam algumas das cerimónias religiosas que já estão a ser realizadas pelos 412 diáconos permanentes ordenados nas 21 dioceses portuguesas.
O facto de os diáconos serem, na maioria, casados, estarem a trabalhar na Igreja e serem muito bem aceites pela comunidade ajuda a preparar o terreno para a discussão sobre o celibato dos padres", disse ao JN o bispo Vitorino Soares.
Na hierarquia católica, os diáconos são a base da pirâmide composta por padres e em cujo o topo estão os bispos. "Os sacerdotes não têm capacidade de dar resposta a todas as solicitações e os diáconos que, inicialmente, tinham uma missão mais social de visitar doentes e pessoas sozinhas, agora fazem todo o tipo de trabalho", referiu o responsável pela Comissão Episcopal. De fora, das funções diaconais, fica, entre outros, a confissão.
fim do celibato
"Se a comunidade aceita o trabalho dos diáconos casados, a mesma comunidade deverá estar favorável ao resto", disse o bispo auxiliar do Porto. O "resto" é a possibilidade de os padres poderem optar ou não pelo celibato. A discussão que foi lançada pelo Papa Francisco é um dos temas que geram mais controvérsia entre os católicos. "A decisão de o celibato ser opcional é tomada pela hierarquia mas o debate tem que ser feito por toda a Igreja", frisou.
O papel dos diáconos foi reformulado pelo Papa Paulo VI, que em 1967 e perante a falta de sacerdotes em todo o Mundo, promulgou a restauração do diaconado permanente na Igreja, segundo decisão tomada no Concílio Vaticano II. No caso dos candidatos ao diaconado permanente, a ordenação é "uma missão para toda a vida", podem aceder homens, incluindo os casados, com mais de 35 anos.
"Há uma vontade e uma vocação da parte dos homens que querem ser ordenados mas também há uma escolha por parte da comunidade onde estão inseridos para que aceitem essa missão", finalizou D. Vitorino Soares.