É sala de concertos, lugar de congressos, tem restaurante e, nos últimos tempos, transformou-se em recinto desportivo. O "elefante branco" está tomado pelos amantes da corrida, reergueu-se e transpira vida. Um pinhal, rio, lago e percursos: o centro de congressos de Santa Maria da Feira virou lugar de eleição.
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O relógio marcava 9.30 horas de uma manhã de domingo e ali não há atrasos. Os professores começavam o aquecimento no exterior do Europarque, na Feira, coordenando os exercícios de 250 pessoas. Há domingos em que chegam a ser 500 a correr e a caminhar. É assim o Europarque Running, que se faz por percursos desimpedidos de trânsito. Todas as semanas, faça chuva ou sol. Há técnicos a orientar e desengane-se: não se paga nada. A febre é tal que se estendeu a todos os dias da semana.
Num cenário rodeado de árvores, lago, rio, pinhal, o projeto nasceu há três anos, com meia dúzia de pessoas. Pouco depois de ter caído no colo da empresa municipal Feira Viva - e por alguns visto como um "elefante branco" -, o Europarque, acabado de ser nacionalizado, estava ao abandono e desacreditado. Reerguer aquele que foi o maior centro de congressos do país parecia tarefa impossível. Até que se descobriu que havia quem fosse para ali diariamente correr e caminhar. "Perguntámos porque vinham para aqui. Na altura, disseram-nos que era um espaço fantástico, embora estivesse abandonado", conta Paulo Sérgio Pais, diretor da Feira Viva.
Reabriu-se a casa de banho exterior e definiu-se um percurso com iluminação até às 21 horas. O "passa-palavra" fez o resto. De dezenas passaram a centenas. O running reavivou o "elefante branco" adormecido. E a Feira Viva tinha um desafio: aumentar a ocupação do Europarque. "Um deles era aproveitar a forte componente outdoor, queríamos que o Europarque fosse apropriado pelos feirenses", explica Paulo Sérgio.
Cada um ao seu ritmo
Aproveitaram a moda, contrataram professores, marcaram um dia da semana e assistiram a um "boom" de adesão. "Temos 300 a 500 pessoas a cada domingo. Em investimento, são cêntimos por utilizador e o impacto é enorme. Isto mudou a relação das pessoas com o Europarque, que passaram a vir todos os dias. E estilos de vida. É um caso social, em que há famílias inteiras e amigos", sublinha.
Correm ali toda a semana, mas aos domingos todos alinham horário. À frente, professores de bandeira às costas a marcar o ritmo. Há um por cada modalidade: caminhada, corrida de ritmo lento, moderado, rápido ou corrida olímpica. Está ao alcance de todos. "Independentemente da preparação física ou da idade. Muitos iniciaram na caminhada e já estão no ritmo rápido. O conceito de autossuperação aqui é incrível", explica António Rocha, coordenador do Europarque Running.
O clima que se vive, o espírito de equipa é incomparável, ninguém vem por obrigação
Há miúdos de oito anos, assim como pessoas de 70. Uns puxam pelos outros e, ao fim de 50 minutos, juntam-se. Há gritos de vitória, abraços, fotografias, um mundo rendido ao running. "O clima que se vive, o espírito de equipa é incomparável, ninguém vem por obrigação", diz António Rocha. Nem avisos de temporal os param. "O Europarque é magnânimo. Ninguém tem noção da quantidade de percursos. Com a corrida, transformou-se num centro de vivacidade", confessa.
Daqui nasceu a primeira Meia-Maratona da Primavera, em março. E em junho, há o Triatlo Experience. Vai ser a primeira vez que vai haver natação no lago. Os mais corajosos podem fazer tudo, mas há famílias que se vão dividir: um na corrida, outro na natação e outro na bicicleta. De 2015 para cá, o Europarque reinventou-se, não só por fora, onde também há um restaurante, mas em todos os seus 150 mil metros quadrados, no auditório, nas salas, nos pavilhões. Lá funciona um Centro Empresarial e até se criou a marca "Cidade dos Eventos". Este ano, outra conquista: o maior evento de fitness do país - Portugal Fit - que chegará em novembro. "Ainda há muito a fazer, mas já muito foi feito para recuperar a credibilidade do Europarque", conclui Paulo Sérgio.