Na segunda metade de outubro, vários municípios continuam a ter de levar água às populações. Só em agosto, foram realizadas 2346 operações, que é o valor mais elevado desde 2017. Em Bragança, despesa subiu em 36 mil euros.
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O recurso a autotanques dos bombeiros para abastecimento de água às populações disparou e está a custar milhares de euros aos municípios mais afetados pela seca. Neste momento, na segunda metade de outubro, várias câmaras dos distritos de Bragança, de Viseu e de Vila Real continuam a ter de levar, todas as semanas, água às populações, algo que não é habitual nesta época do ano. É o que ainda está a acontecer em Chaves, Carrazeda de Ansiães, Mogadouro, Macedo de Cavaleiros, Mirandela, Vimioso, São Pedro do Sul, Tabuaço, Tarouca, Mangualde e Vouzela.
Os dados mais recentes, a que o JN teve acesso, mostram que, só em agosto, foram realizadas 2346 operações. Num crescimento de 140% face à média de igual período de anos anteriores, no valor mais elevado desde 2017, pelo menos. Com impactos diretos nos orçamentos das autarquias, ascendendo a despesa a dezenas de milhares de euros. Num ano nunca visto.
De acordo com o relatório de monitorização agrometeorológica e hidrológica de agosto, naquele mês foram reportadas 2346 operações com recurso a meios dos bombeiros (enchimento dos reservatórios de água que servem as populações), num aumento de 57% face a julho e de "140% face à média" de anos anteriores. Respondendo estes dois meses pelo maior número de abastecimentos dos últimos cinco anos (ver infografia). Em agosto, recorde-se, 39,6% do território estava em seca extrema.
Olhando ao território, o maior número de operações naquele mês registou-se em Bragança (257), Mirandela (193), Chaves (160), Castro Daire (158) e São Pedro do Sul (156). Explicando-se não ser possível garantir que todas as operações tenham por finalidade o abastecimento à população e que tal decorra da seca.
Em Mirandela, só até setembro, a "autarquia disponibilizou à população 11,2 milhões de litros de água", num total de 556 operações de fornecimento com um custo estimado de 177 mil euros, explica a presidente da Câmara, Júlia Rodrigues. Quase o dobro face ao total de 2021, quando foram fornecidos 5,9 milhões de litros, num total de 295 operações. Ainda no Nordeste, o presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias, adianta uma despesa, de janeiro a agosto, de 44 007 euros com o transporte de água, "o que representa um aumento de cerca de 36 mil euros face ao período homólogo". Cenário que se repete em Chaves onde, "não obstante a implementação de um conjunto de medidas de redução e otimização do uso da água", foi necessário alocar mais de 83 mil euros. Num total de 661 serviços de abastecimento. Em causa, o reforço "em 49 localidades, pertencentes a 25 freguesias, tendo afetado" cerca de 5686 pessoas.
"Pior ano de sempre"
Se o recurso a autotanques é uma prática corrente, nomeadamente para levar água às localidades que não são servidas por sistemas de abastecimento, também é certo, para os autarcas, que a seca agravou a situação. Em São Pedro do Sul, "cerca de 10% a 15% da água transportada este ano" foi no verão. As operações arrancaram em junho e até ao final de setembro tinham sido transportados 13 500 m3.
O mesmo sucedendo em Mangualde, cuja autarquia dispõe de dois camiões-cisterna e de um outro alugado, chegando a realizar em agosto, no pico, 12 operações diárias, assegurando que "este foi o pior ano de sempre". Quanto a gastos, por "administração direta cerca de 20 mil euros" e um "procedimento de contratação pública no valor de 90 mil euros para fazer face à falta de água", dizem ao JN.
Em Vouzela, é habitual o recurso a cisternas em agosto, "mas menos do que no corrente ano, onde o volume foi substancialmente maior". A operação, iniciada em julho, permitiu já transportar mais de três milhões de litros de água. E em Tabuaço, às cinco localidades onde já se levava água, juntaram-se neste ano mais outras quatro, num total de 276 abastecimentos.
Parlamento
Na reunião plenária de hoje do Parlamento, a gestão dos recursos hídricos está em destaque, com vários projetos em discussão.
PSD
Programa de redução de perdas de água nas redes de abastecimento público; aumentar a reutilização de águas residuais tratadas; reforçar a capacidade de armazenamento; recarga artificial de aquíferos para reforço da eficiência hídrica; incentivo às infraestruturas verdes.
Chega
Alteração do decreto-lei 58/2005 para promover uma utilização eficiente dos recursos hídricos. Recomenda ao Governo construção, modernização e reabilitação dos sistemas de regadio.
Bloco de Esquerda
Obrigar ao recurso a água proveniente de ETAR para rega de campos de golfe. Recomenda gestão pública da albufeira no Perímetro de Rega do Mira.
PCP
Plano Nacional para a Prevenção Estrutural dos Efeitos da Seca.
PAN
Avaliação da poluição dos rios internacionais; garantir caudais ecológicos; redução para 6% do IVA nos serviços que visem a eficiência hídrica das casas.
Livre
Recomenda a obrigatoriedade de sistemas de reutilização de águas cinzentas em novas construções.
A reter
56%
A 10 de outubro, o volume total de água armazenada estava a 56% da capacidade, enquanto Espanha, que incumpriu na Convenção de Albufeira, estava a 31,65%.
Chuva e rajadas de vento
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) alerta a população para chuva forte e persistente, trovoada e rajadas de vento até 85 quilómetros/hora durante a noite e a madrugada de hoje, sobretudo no litoral Norte e Centro.
Mitigação
Medidas levam a redução de consumos
As inúmeras medidas em curso no Algarve para mitigar os efeitos da seca permitiram, em julho deste ano e face a período homólogo de 2019, reduzir os consumos em 7%, poupando 590 mil metros cúbicos (m3). Em Murça, a redução chegou aos 24,9% (11232 m3) e, em S. João da Pesqueira, aos 23,3% (17409 m3) face a julho do ano passado.