As chuvas de setembro aliviaram a densidade da seca no nosso território - apenas Bragança se mantinha na classe mais grave (extrema) -, mas pouco impactaram no volume armazenado nas albufeiras. Sendo agora 13, das 58 monitorizadas, as que se encontram em situação crítica, isto é, abaixo de 20% da sua capacidade. No Algarve, Bravura persiste nos 9%. A gestão dos recursos hídricos em cenário de escassez e de alterações climáticas esteve esta segunda-feira em análise no Conselho Nacional da Água.
Corpo do artigo
De acordo com o Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH), a 30 de setembro, face ao último dia de agosto, verificou-se um aumento da água armazenada em duas bacias hidrográficas e descida em dez. Com destaque para a do Barlavento, com a albufeira de Bravura, que desde fevereiro está interdita a consumo agrícola, com apenas 3,1 hectómetros cúbicos. Na do Lima, a 22,3%, a albufeira do Alto Lindoso estava a 19,6% do volume total.
Comparando com os dados apresentados na última reunião da Comissão Permanente da Seca, a 24 de agosto, contam-se agora mais três albufeiras abaixo dos 20% e mais duas abaixo dos 40% da capacidade (são 32). Mantendo-se três acima dos 80% - Enxoé (Guadiana), Touvedo (Lima) e Alvito (Sado).
Relativamente à bacia do Douro, os dados do SNIRH colocam-na a 49,8%, contudo, analisando o relatório semanal, o volume de água armazenada sobe para os 84% uma vez que inclui as albufeiras do Baixo Sabor (a 90%) e do Foz Tua (99%). Do lado espanhol, o Douro está a 30,04%. Quanto ao Tejo, em Portugal estava nos 46,6% e em Espanha nos 35,88%.
Recorde-se que, na semana passada, Espanha anunciou que não iria cumprir com os caudais anuais nos rios Douro e Tejo, violando as disposições da Convenção de Albufeira.
Integração dos setores
Tema que esteve, esta segunda-feira, em discussão no Conselho Nacional da Água, que não reunia há mais de dez meses. Numa "reunião muito produtiva", para o presidente da Confederação dos Agricultores, Eduardo Oliveira e Sousa, com uma "tomada de posição do senhor ministro [do Ambiente, que presidiu] no sentido de fazer um trabalho de aproximação com o Ministério da Agricultura para se delinearem linhas mestras".
Também presente, o especialista em recursos hídricos Rui Cortes destacou um "confronto de visões muito diferenciadas: que apostam no aumento das necessidades de consumo; e a visão de adaptar a utilização da água em função da disponibilidade". Tendo sublinhado Duarte Cordeiro, adianta o professor da UTAD, "a necessidade de integração entre os vários setores". Com foco na prevenção.
Protesto da CAP
O final da reunião do Conselho Nacional da Água ficou marcado por um momento de tensão entre a Confederação dos Agricultores de Portugal e o secretário-geral daquele Conselho, Joaquim Poças Martins. Que, em declarações recentes à Imprensa, criticou a gestão da água feita pelo setor da agricultura. "Não pedi a demissão, pedi ao Conselho que clarifique a sua posição atendendo às declarações públicas do seu secretário-geral", explica ao JN o presidente da CAP.
Dessalinização e reutilização
Na reunião desta segunda-feira falou-se, também, da importância da dessalinização, numa altura em que o Algarve avança com a primeira central do país. Num investimento na casa dos 45 milhões, assegurará 10% do consumo da região algarvia.
Outro dos investimentos em análise foi a aposta nas águas das ETAR com tratamento adicional para usos potáveis. A reutilização da água no nosso país é ainda residual, da ordem dos 1,5%.